terça-feira, agosto 31, 2004

Sempre a Bombar, querida Mahakala

“EU SOU A MAHAKALA NEGRA! E A MINHA BANDA CHAMA-SE A FÚRIA NEGRA. FECHEM OS OLHOS, RESPIREM FUNDO, E NÃO PENSEM EM NADA — PORQUE EU VOU ESMAGAR-VOS A CABEÇA ENTRE OS MEUS DENTES!!!”
Mahakala, uma mulher negra, de pele brilhante como petróleo, é uma deusa irada, uma vocalista punk-hardcore straightedge, que na total força e pujança da sua fúria dá, assim, inicio ao concerto da noite. A tempestade chegou. O fim do mundo começou. Este é o som da noite, duma noite rubra.
“Querem som da pesada? Eu dou-vos da pesada!”
E é da pesada mesmo. A bateria começa a metralhar sem misericórdia, é uma locomotiva descontrolada, o som explode do palco e acerta no público, uma massa louca, em êxtase. O baixo, sempre a bombar faz disparar os corações em taquicardia, comprime as costelas; enquanto as guitarras, furam como uma broca de diamante pelos tímpanos, atravessam o osso, electrificam o crânio mandando choques e faíscas pelas cabeças até à medula. O microfone é esmagado entre os dedos da Mahakala. Os movimentos dela são ondulantes, os braços como chicotes, suados e negros, e a voz rasgada, grossa, ecoa vinda do mais profundo dos infernos. “Eu sou a Mahakala negra! E a minha voz é voodoo, a minha voz acorda mortos! Acordem!”
E essa é, no fundo, a essência do punk-hardcore straightedge e fusão: acordar os mortos e os adormecidos da nossa sociedade. E quem são estes necromantes do mundo moderno, que estão a tentar acordar os mortos — quem são os punk-hardcore straightedgers? Eles são os sobreviventes duma raça de amantes do metal duro e música rápida. Eles são mutantes, querem mudar o mundo, são loucos, e muitos são veganos. A sua adrenalina, o seu desporto radical de vida e de morte, é tocar música pesada.
A sua música é rápida, potente, cheia de energia e de letras filosóficas, cheias de pensamento e reflexão. As suas músicas e letras são contra a discriminação racial, álcool, drogas, consumismo e exploração dos animais. Explicando em poucas palavras o movimento punk-hardcore straightedge e fusão, estes são movimentos e projectos musicais com algumas ligações aos estilos de música punk, hardcore, metal, ragga, rap, e tudo mais — desde que o resultado seja pesado. No entanto, se bem que haja semelhanças nos estilos e no som, há diferenças fundamentais entre estes grupos, muitos especialmente nas atitudes e posturas em relação à vida. Vamos, então, ouvir o que alguns punk-hardcore straightedgers dizem acerca destes movimentos:
“A nossa postura na vida tenta ser diferente e criativa. Nós não concordamos com a atitude hedonista e auto-destructiva que contamina a nossa sociedade, isto incluindo a juventude e as banda de música. Nós estamos, de facto, muito conscientes de alguns dos problemas fundamentais que estão a causar sofrimento e a destruir a nossa sociedade, por isso nós fortemente desaconselhamos o álcool, drogas, produtos resultantes da exploração de animais, e as relações casuais.” (Emma “Fire-Dragon”, guitarrista dos Merchant of Menace).
“Nós somos contra a violência e a guerra em todas as suas formas. Por isso nós também somos contra as drogas e o álcool, que são produtos tóxicos que trazem guerra para dentro do nosso corpo. Talvez nós não consigamos, directamente, parar com as grandes guerras que estão a acontecer por esse mundo fora. Mas podemos, seguramente, evitar aquelas que começam dentro de nós. O que significa que devemos ser cuidadosos com as coisas que trazemos para dentro de nós mesmos, isto se quisermos evitar “guerras civis” nos nossos corpos e mentes. Nós somos a favor de um estilo de vida sem crueldade. E isso está relacionado com o que consumimos, comemos e até vemos na televisão!” (Josephine Linqvist, baterista dos Nomad).
“Nós gostamos de tocar música muito forte e potente. A rasgar mesmo. É uma maneira de acordar as pessoas. Nós queremos mostrar-lhes como é destrutiva a maneira como certas coisas são feitas na nossa sociedade de hoje em dia. E a música é uma muito boa maneira de chamar as atenções. Demasiadas pessoas, animais e seres vivos estão a sofrer — AGORA! Ouçam: as florestas estão a ser destruídas, os animais estão a ser dizimados, e as pessoas estão a ser intoxicadas! Nós temos, de novo e sempre, de ganhar responsabilidade sobre as nossas próprias vidas. Temos de ser o BOSS, o patrão das nossas vidas. Cada membro desta sociedade tem de aprender a respeitar O TODO! Os problemas no mundo só irão diminuir quando nós pararmos de contribuir para eles. Nós temos de dar o primeiro passo.” (Afro-Spider, baixista de Don´t Panic it´s Organic).
“Eu não pertenço a nenhum grupo, nem religião, nem partido organizados. Não pertenço a nada, nem a ninguém. Sou livre. Apenas amo a música e para isso não preciso de pertencer a nenhum partido, nem nacionalidade, nem gang. A minha pacifica tribo sou só eu, e a minha religião é o pôr-do-sol, a lua que rasga as nuvens na noite, e o vento quente que sopra para fora da minha boca e do meu nariz. Sou um nómada dos tempos modernos, mas no fundo nunca estou sozinho, pois sou um irmão deste mundo, filho de todo este universo. O meu coração e o coração deste universo batem ao mesmo ritmo, como um só. ONE HEART, ONE LOVE como dizia o grande SHAMAN. Para mim o punk hardcore e o straithedge são atitudes na vida que nem precisavam de ter nome. O importante é sentir o ENCARNADO do sangue e da coragem a correr forte nas veias. O importante é sentir o DOURADO da inteligência a arder forte que nem um sol nas nossas mentes. O importante é tocar o VERDE da paz a unir-nos às nossas raízes, à natureza e a todos os seres vivos que são nossos irmãos. O importante é aceitarmos o nosso destino como seres interdependentes desta vida, deste cosmos. Somos todos um só. Não há fuga possível”. (Coração-Preto, ex-vocalista dos Fusão-Empática).
“Uma FORÇA quer-te neste mundo. Uma FORÇA bombeia o teu coração e dá brilho aos teus olhos. Uma FORÇA desenha o teu destino, tal como risca a noite com cometas, estrelas candentes e uma lua que é um espelho da tua alma, do teu espírito. Tu isto sabes, tal como sabes que existes. Sente: EU EXISTO!!! E essa consciência, essa FORÇA, é um reflexo desse algo maior, duma vida que brilha como as supernovas que explodem pelos céus, na noite eterna. Não te queixes, não te preocupes. Sofrer faz parte. Porquê, não sei. Talvez para nos fazer querer encontrar aquilo que já somos — mas não sabemos.... A FORÇA.
A vida magoa-te, tortura-te? Então grita, grita da tua cruz, do teu palco — grita até que os amplificadores peguem fogo, as colunas levantem voo e o microfone fique feito em migalhas de luz. E se o mundo é estúpido cabe A TI fazer a diferença, viver a diferença. O direito à diferença. Esse é o direito que mais me interessa — nem é o direito à igualdade, mas sim O DIREITO À DIFERENÇA!!!!” (Mahakala, vocalista dos Fúria Negra).
“Diz assim lá no I CHING: “Sê inocente, esse é o supremo sucesso da tua vida. Se fores paciente a vida levar-te-á onde deves chegar. Se uma pessoa não for ela mesma, então encontra o infortúnio, a tristeza...Se tiveres confiança no espírito que está dentro de ti, e que contigo nasceu, então atingirás a inocência pura que te guiará os passos para o que é certo, com uma certeza instintiva sem qualquer pensamento de recompensa ou proveito pessoal...” Estás a perceber? Há muitos anos atrás escrevi uma música para a minha banda que se chamava: À sombra do carrasco. E o carrasco, o torturador, dizia a música, está dentro de nós, somos nós mesmos. Frequentemente, nós somos o nosso próprio pior inimigo. Também, durante anos, a pessoa que mais odiei neste mundo foi a mim mesmo. E porquê? Porque nos sentimos errados, inadequados, incompletos. Achamos que tudo o que tocamos fica destruído, sem sentido - nem que seja porque pousámos os nossos olhos sobre uma flor, ela irá murchar. Mas um dia algo aconteceu...
E assim a vida muda. A atitude muda. Um acontecimento, uma palavra, alguém que aparece no nosso destino.... E a vida muda-nos, algo novo aparece para nos mostrar outro caminho.
Queres ver outra vida? Outro mundo?
É preciso recuperar confiança, não em nós mesmos porque isso não chega, mas sim na VIDA. Confiarmos no instinto, no nariz, saber dizer não às coisas destrutivas e às mentiras que a maior parte do mundo nos quer enfiar pelas orelhas. Quando é a vida a falar, e não a nossa cabeça, então o nosso instinto sabe o que devemos e não devemos fazer. O nosso nariz e o nosso coração têm muito instinto, e por isso podem ser puros, inocentes. Cheiram a merda ao longe e afastam-se.
O mal não está em ti. Está no facto de que esta nossa sociedade faz as pessoas morrerem à fome dentro da sua alma. Aquilo que nos é oferecido é pouco, muito pouco e muito poluído e impuro. Por isso, mesmo quando se tem “tudo” aquilo que a nossa sociedade acha de importante, e que nos devia fazer feliz, mesmo assim não nos faz felizes — mesmo assim tu, eu e mais algumas pessoas deste mundo, não nos sentimos felizes com o que nos dão. Depois dizem-nos: nunca estás feliz com nada!
E não estou!!! Com as vossas drogas, televisões, guerras, modas, carnavais, "estórias de amor", tudo isso é uma treta. Vou viver para quê? Para o dinheiro, o carrão, a discoteca, a telenovela, o divorcio e o corno, a paródia e o vazio ao ver o rosto no espelho? Isso não me contenta. Não me chega, não me chega. Estás a perceber?!
Queres sentir a vida? Abre bem as mãos da próxima vez que sentires o vento, e deixa-o soprar-te por entre os dedos. Aí não saberás se és tu que corres no vento, ou se é o vento que corre em ti....
E lembra-te do que o Buda disse: NÃO HÁ CAMINHO PARA A FELICIDADE. A FELICIDADE É O CAMINHO.” (Macraft D’Rassing, guru dos Fúria Negra).

Bandas de referência do straightedge e fusão: Fúria Negra, Soulfly, MasMorra Podre, Youth of Today, 108, No Use For A Name, Shelter, Fugazi, Propagandhi, Asiandubfoudantion, Clawfinger, etc.




A empregada de limpeza modelo

Uma empregada de limpeza do Tate Gallery, em Londres, deitou, por erro, para o lixo uma peça que integrava uma exposição de arte moderna.
Segundo a imprensa britânica, a obra de arte foi recuperada no contentor do lixo da galeria quando o conservador se deu conta do seu desaparecimento.
A obra, intitulada «Nova criação da apresentação pública de uma arte auto-destrutiva», é da autoria do artista alemão Gustav Metzger, e data de 1960. A peça, colocada sobre uma mesa, consiste num caixote de lixo com resíduos diversos, entre os quais pedaços de cartão e jornais velhos.

1) A empregada estava a fazer o seu trabalho, como poderia diferenciar uma obra de arte de um caixote de lixo com resíduos diversos?
2) a peça de arte chama-se "Nova criação da apresentação pública de uma arte auto-destrutiva"... auto-destrutiva certo? Esteve 44 anos para se auto-destruir... a senhora estava farta de esperar....
3)Vamos a ver que a senhora até colocou tudo num saco para papel para reciclagem.
4) alguem lembrou-se de verificar os contentores do lixo aquando do roubo do "grito" de Munch?
Notas do Egipto


Templo de PHILAE onde supostamente estaria o peixe-gato que teria comido uma parte essencial do corpo de Osíris.



Osíris, filho dos Deus Rá, o Sol, foi assassinado por seu irmão Set (o mau da fita) e o seu corpo foi cortado em 14 pedaços e espalhado pelo rio Nilo até às costas da Fenícia (o rio Nilo nasceu das lágrimas de Isis, o mar vermelho do sangue de Osíris).
Sua esposa, Ísis, numa viagem com a sua irmã (mulher de Set) consegue, após muito esforço, reuní-los novamente e trazê-los à vida no primeiro ritual de mumificação. Depois da ressureição, Osíris ganha o estatuto de Deus dos Mortos e seu filho, Hórus (concebido antes do pai ser assassinado, pois após a junção das 14 partes faltava uma parte que o impedia de ter filhos), o Deus com cabeça de falcão, passa a ser considerado o ancestral de todos os faraós egípcios. Ísis é a Grande Mãe, a mulher que, por amor, luta pela reintegração do corpo do amado, mesmo que isso signifique empreender uma jornada difícil, em que enfrentará a própria morte.


"Abrem-se as portas da percepção; O que estava oculto foi revelado. Vejo a mim mesmo e um turbilhão de mil cores em luz liquescente...voltei ao lar. Convosco estarei neste e em outros mundos... Todas essas coisas sou eu: imagens, sinais...e embora separado, sou parte de vós. Que possamos entrar no céu e dele sair através dos portais de luzes estelares. Em verdade, eu venho. Navego por um longo rio e mais uma vez remo de volta. É bom respirar sob a presença das estrelas. Sou hóspede destinado a caminhar milhares de anos até chegar a mim mesmo"


Clientela

....do bar

segunda-feira, agosto 30, 2004

Adeus Atenas 2004

Fotini Papaleonidopoulou, 10 years-old, carries a lantern with the light taken from the cauldron flame during the closing ceremonies of the Athens 2004 Summer Olympic Games on August 29 © GETTY IMAGES/Scott Barbour
Lá vai a chama que iluminará Beijing em 2008.
Que não nos esqueçamos dela nos quatro anos que estão para vir.
Nem dos ideais que norteiam os jogos.
Nem dos desportistas que vivem para além desta semana apoteótica.
Nem que há mais desporto para além do futebol.
Nem…
Até lá!

sábado, agosto 28, 2004

Sabedoria Popular

Este post é um presente para o meu amigo Frater Caerulus. Ele saberá porquê...

A minha mãe usa muito a expressão “sonsa do pau oco” . Pérolas da sabedoria popular que usamos em contextos que julgamos idênticos àqueles em que habitualmente ouvimos as expressões, mas sem saber exactamente qual o seu significado.

Associo a expressão a debochada [do francês débauche – vida dissoluta; devassidão; libertinagem, preversão]

Pois aqui está uma explicação viável para a origem do termo – sonso/a do pau oco
«Às margens da Rodovia União-Indústria, logo após cruzarmos a ponte e a linha do trem, à direita de quem segue para Juiz de Fora existe um casarão em ruínas onde funcionava, nos tempos da Colônia e do período aurífero, que na escola estudamos como ciclo do ouro, o antigo Registro do Paraibuna. O prédio funcionava como uma espécie de alfândega interna, onde era feito o controle do tráfego de mercadorias e combate ao contrabando de ouro e diamantes. Eram também cobrados os direitos de passagem devidos à Metrópole. O prédio abrigou o Príncipe Regente, em 1822, quando por ali passou e nele nasceu a mãe do patrono do Exército brasileiro, o Duque de Caxias. Era também a passagem obrigatória do Tiradentes. Antes da Conjuração Mineira, Tiradentes foi também responsável pelo patrulhamento daquela área e conseguiu desmantelar caminhos alternativos usados pelos contrabandistas. (Fonte Guia Estrada Real para caminhantes: RJ a J. Fora. Olivé Raphael, Ed. Estrada Real, 1999 página 87 com adaptações). Não existem comprovações, mas é bem provável que naquele lugar, onde está o prédio em ruínas, tenha nascido a expressão "santo do pau oco". Os contrabandistas colocavam ouro dentro de imagens ocas de santos crendo que os fiscais, por pura superstição, não quebrariam as imagens, pois isso traria azar a que o fizesse. Daí o termo santo do pau oco para se referir a uma pessoa sonsa, perigosa.» por Fernando Mendes

sexta-feira, agosto 27, 2004

O Nascimento de Venus

O Nascimento de Venus, Sandro Botticelli , 1445-1510

Pura Beleza.

Vítimas

A crónica de Eduardo Prado Coelho no Público de hoje é sobre a apologia aos processos de vitimização e compaixão das sociedades modernas. Os nossos jornais e noticiários saciam-nos com histórias de protagonistas da desgraça, com vítimas que tornam pública a sua dor. E nós, nos nossos sofás, ávidos de emoções, procuramos nesses enredos o rosto dos culpados.

«A sociedade contemporânea ama a compaixão. E as vítimas encontram no processo que as vitimiza o momento de glória que procuram ao longo de uma vida sem grandeza.»

Será que nos compraz perceber que os outros também sofrem?

Afinal,

"When your day is longand the night,
the night is yours alone,
when you're sure you've had enoughof this life,
well hang on.
Don't let yourself go,'cause everybody cries and everybody hurts sometimes." REM

Bem, isto tudo para dizer que quando for grande quero ser como o Eduardo Prado Coelho!!

Omnibus


Blade-Runner
Originally uploaded by Promethea.

quinta-feira, agosto 26, 2004

Nas teias da net

descobri que o filme “Blade Runner” do realizador inglês Ridley Scott,
foi eleito o melhor filme de ficção cientifica de todos os tempos.

Gostei!

Boom Festival 2004

Começa hoje o festival que celebra a cultura alternativa global.
Gente de todo o mundo vem disfrutar da música, dos ambientes trance, dos
palcos concebidos segundo a geometria sagrada, dos saberes orientais, da cultura biológica, e mais, muito mais em Idanha-a-Nova.
Check this out

Pontapé na Gramática

Aprendi hoje que,
seguindo a gramática tradicional,
o sufixo -dade
exprime qualidade.

Tive ganas de chamar a esta nova rubrica "gramaticadade".

Relógios

Apeteceu-me pensar a vida sem relógio! E não falo de esquecer-me dele em casa.
Penso num tempo em que não há horas certas, num tempo em que não há falta de tempo! Porque viver num tempo assim, em que o tempo é um contratempo?!

Há sempre qualquer coisa para fazer, trabalhos para acabar, livros para ler, vontade de passear e aquele filme que ainda não fui ver...
E o sol? Meu Deus, o Verão está a acabar!

Isto é que é civilização, a invenção das invenções? Depois de se conhecer não se pode ignorar. Mesmo que naufragasse numa ilha deserta, como Robison Crusoé, e vivesse da caça e recolecção e não das modernas formas de produção (em que tempo é dinheiro) certamente tenderia a marcar os dias no tronco de uma árvore como os prisioneiros fazem no cárcere para ver passar o tempo.

« O relógio não é apenas um meio de acompanhar as horas, mas também de sincronizar as acções dos homens. O relógio, não a máquina a vapor, é o mecanismo fundamental da moderna idade industrial [...] nos primórdios das técnicas modernas surgiu profeticamente a máquina automática de precisão. [...] Nas suas relações com quantidades determináveis de energia, com a padronização, com a acção automática e, finalmente, com o seu próprio produto específico, a cronometragem exacta, o relógio foi a máquina fundamental nas técnicas modernas; e em cada período manteve-se na liderança; marca uma perfeição à qual todas as outras máquinas aspiram»
Mumford, Lewis. 1939. Technics and Civilization, Nova Iorque: Harcourt, Brace, pp.14-15

«Não sabemos quem inventou essa máquina ou onde. [...] O relógio foi a maior realização da engenhosidade mecânica medieval.[...] Finalmente, o relógio proporcionou ordem e controlo nos planos colectivo e pessoal. A sua exibição pública e posse particular lançaram as bases para a autonomia temporal: as pessoas podiam agora coordenar idas e vindas sem imposição superior. (Contrariamente no exército, apenas os oficiais podiam saber as horas). O relógio forneceu os sinais de pontuação para a actividade de grupo, ao mesmo tempo que habilitava os indivíduos a orientarem o seu próprio trabalho ( e o dos outros) com vista ao aumento da produtividade. Com efeito a própria noção de produtividade é um subproduto do relógio: a partir do momento em que se pôde relacionar o desempenho com unidades de tempos uniformes, o trabalho nunca mais foi o mesmo. Passa-se da consciência do tempo do camponês, orientada para a tarefa (uma tarefa após a outra, conforme permitissem o tempo e a luz), e dos afazeres do servidor doméstico (sempre alguma coisa a fazer) para um esforço de maximização do produto por unidade de tempo (tempo é dinheiro).»
Landes, David , A Riqueza e a Pobreza das Nações, Trajectos, Gradiva , pp-52-53

La persistencia de la memoria, Salvador Dali


La persistencia de la memoria
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Distorcer o tempo?

quarta-feira, agosto 25, 2004

Quando a justiça chegou à cidade

Foi este o título que me tirou dos meus afazeres para escrever este post.
Pensei para os meus botões: “Isto eu tenho que ver! Tem um certo ar hollywoodesco, tipo Western Spaghetti.”
Com um olho na ampulheta e outro no jornal que jazia ao meu lado, aguardei pacientemente pelo emergir da notícia.
Desenganem-se os fãs de Sérgio Leone ou os mais intrépidos crentes no sistema judicial português.
A justiça a que alude o título tem um pendor clássico e trágico. A cidade a que chega é Mérida, pelas mãos do encenador Mário Gás.
Só não senti este tempo como perdido porque o dei por bem empregue. E assim é muitas vezes.

terça-feira, agosto 24, 2004

TESTE

Ainda na onda dos testes, e na sequência de uma conversa com o Frater Caerulus e a Promethea, deixo-vos aqui a possibilidade de testarem os vossos conhecimentos acerca de medicamentos genéricos.

PS – Pareço andar um bocado obcecada com comprimidos...

domingo, agosto 22, 2004

Excerto de 'Survivor' (pp. 111-110[sic])

"We all watch the same television programs," the mouth says. "We all hear the same things on the radio, we all repeat the same talk to each other. There are no surprises left. there's just more of the same. Reruns.

Inside the hole, the red lips say, "We all grew up with the same television shows. it's like we all have the same artificial memory implants. We remember almost none of our real childhoods, but we we remember everything that happened to sitcom families. We have the same basic goals. We all have the same fears."

The lips say, "the future is not bright.

"Pretty soon, we'll all have the same thoughts at the same time. We'll be in perfect unison. Synchronized. United. Equal. Exact. The way ants are. Insectile. Sheep.

Everything is so derivative.

A reference to a reference to a reference.

"The big question people ask isn't 'What's the nature of existence?' " the mouth says. "The big question people ask is 'What's that from?' "

Chuck Palahniuk (1999) Survivor. Vintage, London.

O Irmão Grande

Ocorreu-me há dias a fineza da ironia presente nesta expressão. É quase uma contradição nos termos; duplipensar puro e duro. Na sociedade que a tradição radical procura implementar pelo menos desde Jesus - isto é, uma sociedade livre, fraterna e igualitária - é óbvio que seríamos todos irmãos. Mas como as sociedades colectivistas oligárquicas apenas estão vinculadas à tradição radical na medida em que a usam como cortina de fumo para encobrir a sua verdadeira prática, há que acrescentar o qualificativo 'Grande'. O Irmão Grande é irmão mas pai. A porta fica assim entreaberta de uma forma que permite acomodar a verdade hierárquica e patriarcal dessas sociedades. É brilhante e, no fundo, o mesmo dizer que 'todos os animais são iguais... mas alguns animais são mais iguais do que os outros'.

Eu vi o Chinatown e sei que é possível ser irmão e pai em simultâneo. Mas é contra-natura.

sábado, agosto 21, 2004

Insónias, Divagações, Drogas

Hoje encontrei uma vizinha do prédio onde antes morava.

Curioso! Em miúda sempre vi nela humildade e amabilidade. Não sei se estes distintivos vinham agrafados à imagem que tinha de uma devota católica. Foi com esta vizinha que aprendi a rezar o terço, o acto propriamente dito (lembro-me agora que me esqueci como se faz!). Via-a também preparar o jantar enquanto rezava em uníssono com as vozes da Rádio Renascença- Emissora Católica a missa do entardecer. Diz-me a memória que era a missa das sete, mas ela falha-me tantas vezes que não vale a pena fiarmo-nos.

Recordo-me de ver esta vizinha sempre de preto: lutos prolongados, próprios de alguns costumes da Beira Interior, onde fica a sua terra natal.

Eu chamaria a esta senhora conservadora. Para além dos traços que já referi, noto, agora, que baixa o tom de voz quando usa palavras como “droga”, “sida”, “pretos”. Estas são as que recordo ou que consigo sequer ouvir. Serão as que considera pecado pronunciar? Tento perceber e volto às categorias: preconceito.

Retomando a conversa: nos breves momentos que falámos, essencialmente sobre saúde de familiares e relativos, falou-me várias vezes dos comprimidos que tomava: “eu só durmo se tomar comprimidos para dormir” e percebi que isto funcionava como um marco no seu fuso horário, assim como um meridiano de Greenwich que em vez de dividir o tempo entre espaços divide o tempo em tempos: o antes e o depois. Assim “antes de tomar o comprimido para dormir ainda ouvi barulho na escada” e “depois de tomar o comprimido adormeço completamente e já nada me acorda”.

Bem, fiquei impressionada! Nunca me tinha passado pela cabeça que a minha ex vizinha é uma junkie. O que a distingue dos “drógados” a quem ela se refere em voz baixa?

Esta conversa porque passei a noite sem dormir, em divagações, a ver coisas na net que amanhã nem sequer vou lembrar!

Devia ter perguntado à minha vizinha quais os comprimidos que toma para dormir. Ela disse-me que ia de férias. Talvez me diga quando voltar.

E por falar em comprimidos deixo-vos uma notícia curiosa que vi no Público. E não, não foi no “Inimigo Público”:

O facto conta-se em duas palavras: a Environment Agency do Reino Unido constatou que a água potável que os britânicos andam a beber contém pequenas quantidades de Prozac, a famosa droga antidepressiva. Aparentemente, isso deve-se ao facto de o consumo da droga estar a aumentar de forma acentuada e de os seus utilizadores excretarem parte do medicamento sem este ser metabolizado.

Essas moléculas vão dar aos esgotos e, depois de passarem pelas estações de tratamento, tornam a entrar no sistema hídrico, a partir de onde reentram no sistema de recolha e distribuição de água a domicílio, para chegar às torneiras. O tratamento dos esgotos deveria eliminar todos os resíduos de Prozac, mas não é isso que acontece. Segundo a Inspecção da Água Potável do Reino Unido (Drinking Water Inspectorate) a quantidade de Prozac presente na água é por enquanto demasiado pequena para fazer efeito. Porém, considerando que os antidepressivos são um dos grupos de medicamentos onde o consumo mais cresce (no Reino Unido e em Portugal), é evidente que a concentração irá crescer. A própria Environment Agency mostra-se preocupada com o facto pois, se a quantidade ingerida é pequena, a verdade é que a administração é contínua e ninguém sabe quais poderão ser os efeitos. Os democratas liberais dizem que se trata de uma "administração maciça e encoberta de medicamentos" à população e os ambientalistas também entraram em histeria (sinal de que não estarão a beber água suficiente), mas onde tantos vêem razões para alarme não há motivo para nós não vislumbrarmos uma oportunidade.
(continua)

Bush

Vejam o filme "Victory" neste endereço: http://www.georgewbush.com/News/MultiMedia/VideoPlayer.aspx?ID=984&T=2&PT=hiqt
Chega a ser comovente!!!

sexta-feira, agosto 20, 2004

A deusa do bardo, Mahakala para vocês

O motor dinâmico do bardo da dissolução é a Mahakala. O ritmo dinâmico da sua destruição é feito em ritmo, em dor, em sangue, em apocalipse. O apocalipse do teu eu, do teu corpo, da tua máquina - o aparato que idolatras, pois não tens outro deus.

Como objecto, não tens fuga possível.

A tua cabeça já está na boca do tigre, disse Maharishi.

A tua cabeça já está nas mãos da Mahakala.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Todol

Gosto deste bar.
Tem histórias, tem cheiros, tem conversa fiada, tem gente que “fala” sozinha e outros tantos que “ouvem” calados. Tem quadros nas paredes. Tem conhecimento avulso mas não segmentado - as coisas que vocês sabem…
Tem pensamentos e ruído de fundo, mas… falta-lhe música!
Dedico-vos:

Bom Dia
"Hoje eu tenho asas nos pés
Só me apetece dançar
Há tantas caras bonitas
Tantas mãos a acenar
Eu sou um balão colorido e mágico
- Bom dia!
Ontem já passou
Amanhã pode ser bom
Mas hoje é o melhor dia que há
Nem preciso de fé
Eu felizmente não preciso de nada
- Bom dia!
Hoje eu sou um homem contente
Ao serviço do amor
Sou o próprio sonho
E desconheço a dor
Eu sou o vagabundo mais feliz que existe
- Bom dia!
Hoje eu sou mais forte dos deuses
Mais certeiro que a morte
Estou por cima da queda
Mais seguro que a sorte
Eu sou o universo inteiro a sorrir
- Bom dia!"

Gentileza de Jorge Palma

quarta-feira, agosto 18, 2004

Ao cinema

A propósito das matinés, repesquei da minha memória os bancos de madeira do clube da minha terra, onde passavam as fitas antigas do "Santo" e do "007". Esse foi o primeiro espaço a que chamei cinema. Tenho uma vaga ideia da parafernália de objectos que desciam à sala para a projecção do filme e o barulhinho de fundo que se fazia ouvir à medida que a fita se desenrolava, envolvendo-nos naquela fantasia.
O cinema foi uma grande invenção caramba!
Bravos rapazes, os irmãos Lumière.

Affiche Brispot
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Name yer poison

Os holofotes da estátua do Eça fumegam sob a chuva. Pego nesta coisa que vivi e ponho-a de par com uma imagem do Olympia na qual se vê o estádio rodeado de um anel de holofotes apontados ao céu. Há também a Londres molhada da Marca Amarela. Tenho de quero tricotar essa camisola. A chuva em Hemingway. O MB. A chuva em Gene Kelly. A chuva como uma extensão do estado de espírito de quem a apanha. Em Espanha. Se estás triste a chuva é triste. Se estás contente, é contente. Forças da natureza? O impessoal não existe.

Nunca se ouve alguém falar de cinema como alimento espiritual. Que faz a missa pelos fiéis? Que faz ela que a sala de cinema não faça? Matinés no São Jorge. Sair da penumbra para a luz do dia, da ficção para a realidade, e encontrar a cidade lavada no sol da tarde consola como receber à saida do banho uma toalha que guarda ainda o calor do sol que bate no estendal.

Estranho lapso o dos teólogos. Os seios são, obviamente, uma prova da existência de Deus.

terça-feira, agosto 17, 2004

segunda-feira, agosto 16, 2004

Conhece-te a ti mesmo

O teste que vos proponho (cliquem no cabeçalho) pretende eludir o grande senão de perguntar coisas às pessoas - nós mentimos ou nem mesmo sabemos qual é efectivamente a nossa predisposição face a algo - e chegar por portas travessas a realidades estruturais como, por exemplo, o sexismo.

Tudo com o selo de Harvard.

Fiz o do racismo e não fiquei surpreendido com o resultado.

Atrevam-se.

sexta-feira, agosto 13, 2004

Aos Jogos

No dia 25 de Março de 2004
a chama olí­mpica iniciou um percurso
de cerca de 78 mil quilómetros
através de 5 continentes,
envolvendo cerca de 11 mil pessoas,
entre o templo de Hera
e o estádio olímpico de Atenas,
onde chega hoje, 13 de Agosto.

Let the games begin!

chama
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Paternidade

Fui incitado por uma mente feminina (imaginem) a escrever um artigo sobre a minha experiência de paternidade (pelo menos nasceu lá em casa como diria o meu pai).
Acho que se pode resumir em: "Carros desportivos, barcos e casas com piscina... é bom ter amigos que os tenham".
Das primeiras considerações a fazer é (tendo a ética, moral e questões legais à parte):o aborto só pode ser feito enquanto ainda não nasceu... depois disso, amigos, só um pequeno acidente doméstico, rodoviario, you name it, pode resolver o problema.

Mas nem tudo é mau, muitas alegrias nos dão... cada vez que adormecem... e isso pode dar azo a varias alegrias numa só noite. Que felicidade!
Há outras alegrias momentaneas e são tantas que me faltam as palavras: a primeira vez que descobre como se partem comandos de televisão, que nos obriga a faltar ao trabalho porque está doente, que nos poupa dinheiro em copos á noite porque não podemos sair, etc.
Para além de nunca mais haver 1 minuto de descanço.

É uma experiência fantastica, tipo prisão domiciliaria por uns bons anos sem direito a recurso noutra instância. Mas como gostamos de partilhar a felicidade com os amigos perguntamos: "E vocês? quando? Já começa a ser tempo."

Mas claro que outros o fizeram para que eu pudesse estar aqui a escrever isto... e isso faz-me pensar: não só e justo como agora dou real valor a todos os que produziram, realizaram e levaram até nós os metodos anticoncepcionais... até a famosa dor de cabeça feminina é uma invenção que nos tenta afastar da derradeira fronteira!
E há quem ainda fale em SIDA? Não estou a par do numero de anos medios que se sobrevive à doença (se bem que não se morre dela mas por causa dela) mas quero crer que o numero de anos de sofrimento é menor (se bem que ambas acabem com a morte).

P.S. Estou apenas a fazer humor...não confirmo nem desminto que me identifico com o post.

Doublethink

A dado momento da minha vida passei a estar demasiado acossado para dar vazão à minha vontade de ler. Porventura, essa vontade de ler ter-se-á degradado em vontade de ter lido. Certo é que o homem que lia deu lugar ao homem que compra livros. E estes acumulam-se. É necessária uma porção considerável de duplipensar para levar isto a par de outros vectores da minha vida. Ou talvez não pense de todo.

quinta-feira, agosto 12, 2004

terça-feira, agosto 10, 2004

Utopias

A igualdade de oportunidades à partida é condição necessária do esquema meritocrático liberal - ou seja, de uma desigualdade legítima à chegada - que sem ela não faz qualquer sentido. Esta igualdade só poderia ser garantida pelo triunfo absoluto da escola sobre a sua Némesis funcional: a família, o que não é minimamente plausível. Resulta então que este programa social é tão utópico como o mais estouvado dos egalitarismos, ou melhor, que é apenas "realista" no sentido em que serve de isco ideológico numa realpolitik da reprodução social.

segunda-feira, agosto 09, 2004

sábado, agosto 07, 2004

Da república

A minha geração foi, por alguma razão ou razões que o tempo se encarregou de obscurecer, marcada pelo MEC. Julgo recordar que a páginas tantas ele exultava em como os bifes têm uma expressão bestial - commonwealth, que significa algo como "riqueza comum" para designar a sua ligação às ex-colónias, enquanto nós temos apenas o acrónimo desajeitado CPLP.

Ora, com o tempo, a probabilidade - fraca - das boas ideias tem mais oportunidades de se concretizar e eu hoje apercebi-me de que commonwealth não é mais do que a tradução bifa do latim res publica - república. A oposição entre república e monarquia, que é o fulcro do seu significado dominante na nossa linguagem contemporânea, há de ter uma génese interessante. Afinal, a monarquia - exceptuando o absolutismo - é apenas uma forma de gerir a coisa pública, ou seja, uma modalidade de república.

Há algo de inquitante na possibilidade assim manifesta de o todo e uma das suas partes involuirem para uma oposição dualista. Decadência, estreitar de horizontes.

sexta-feira, agosto 06, 2004

Drenada a mais valia

Fui jantar a casa dos meus pais. Pediram-me que lhes explicasse no que ando a trabalhar. Respondi que em nada de interessante, que tinha até dificuldade em me lembrar. E era verdade. Depois, consegui aceder à memória e disse: sopas... e empilhadores. Dito em voz alta é particularmente irreal.

Há duas noites Hamakune citava-me o Chuck Palahniuk acerca de trabalharmos em empregos de merda para comprarmos tralha de que não precisamos. Há verdade nisso, difícil é não o reconhecer. Mais difícil é fazer algo a esse respeito. Sacrifícios a estranhos deuses, entidades a que alude Lovecraft.

quinta-feira, agosto 05, 2004

Haxixe na Proporção divina

Aviso desde já que não vale a pena ler este post!!!!
Muitos de nós estão familiarizados com o PHI (1.618) também chamado Proporção Divina, Numero de Ouro (ou será Oiro?) e muito relacionado com a Serie Fibonacci.
Presente nalguns quadros de Almada Negreiros (Almada joga em casa logo 1-0), Leonardo Dá vinte (ou mais), construção de Monumentos e artefactos religiosos (tal como TAU), proporções da natureza, etc, etc, etc. (também muito badalado no best seller O Código de Da Vinci...).
Ora numa das minhas bricadeiras google (uma busca por tema para arranjar relações absurdas) encontrei uma noticia espantosa: "DOF APREENDE 1.618 BOLAS DE HAXIXE", ou seja a quantidade divina da dita substância.
Se leram o tempo perdido foi vosso... se quiserem continuar a perder mais tempo vejam mais uns links:
- Phi, a proporção divina
- THE FIBONACCI SERIES
- GEOMETRY IN THE NATURAL WORLD
- Para os mais afoitos (The Golden section ratio: Phi)

E Já agora Publicidade... heheheh: T3 para Venda

terça-feira, agosto 03, 2004

Simplicidade ou Big Brother

Um sentimento misto atravessa o meu ser com a nova "invenção" da Galp: O Biopay.
Misto porque mais uma vez sinto orgulho em ser Português num país em não só o futebol interessa pois mais uma vez lança um produto que tal como a via verde em breve (estou seguro) será usado não só por outras industrias como por outros paises... o uso de biometria em pagamentos.... mas porque, por outro lado, aumenta o potêncial controlo sobre nós por terceiros.
Estou em querer no entanto que o que dizem é verdade... que não fazem cópia da impressão digital mas apenas geram um código através da leitura de alguns pontos no dedo. E estou disso convencido por duas razões:
1- Penso que não iriam fazer algo ilegal.
2- O sistema de leitura que usam não me parece "poderoso" o suficiente para fazer um "scan" real e fiavél de uma das nossas assinaturas mais pessoais.

Receios à parte (pois tudo o que integra informação têm esse perigo) admito que a idea me agradou. Hoje já utilizei e foi muito bom não ter de levar dois cartões (Galp Frota e Fast Galp) para efectuar o pagamento mas apenas as mãos.
Quando for possível, como divulgado, fazer o mesmo directamente na bomba então ainda gostarei mais.

Para os que me conhecem já sabem que tal "gadget" seria do meu agrado mas a parte que mais me agrada é a que já referi e que continuo a pensar que é muito importante: o facto de Portugal ser (ao contrário do que muitos julgam) dos países mais avançados tecnológicamente junto ao consumidor (não me refeiro ao Estado e Empresas em geral) e muitas vezes exportar tal conhecimento. Para os que viajam já repararam concerteza como muitos sistemas em paises supostamente mais avançados parecem retrógados em relação aos nossos... Para isso contribui é certo a nossa entrada tardia na corrida... mas também a nossa capacidade de inovação.



Então isto é um bar e não me servem uma bebida?


A Woman in the Sun

A Woman in the Sun, Edward Hopper, 1961

segunda-feira, agosto 02, 2004

On the road

Aljustrel. A casa de banho tem a porta vermelha.

E arde...


Os livros

A promoção da leitura é o fulcro do projecto de hegemonia da intelligentsia. Trata-se, ao fim e ao cabo, de fazer passar uma ordem de valores segundo a qual a própria intelligentsia é ontologicamente superior a todos os outros estratos sociais.

Outra lei da entropia

Imaginemos uma situação na qual dois indivíduos auferem 100 € de rendimentos mas um deles apenas declara metade às finanças. Adoptemos o pressuposto simplificador de que o IRS tem um único escalão de 15%. O primeiro indivíduo vai pagar 15% * 50 € = 7,5 €; o segundo indivíduo pagará 15% * 100 € = 15 €. Daí resulta que o rendimento líquido do primeiro indivíduo será 100 € - 7,5 € = 92,5 € e o rendimento líquido do segundo indivíduo será de 100 € - 15 € = 85 €.

Consideremos agora a possibilidade de ambos irem tirar o passe social ou pagar propinas. Este tipo de despesa é parcialmente comparticipada pelo Estado, que determina quem deve ser beneficiário desse auxílio a partir da apresentação da declaração de IRS. Imaginemos que a propina sem descontos é de 40 €. O indivíduo que declarou 100 € paga-a por inteiro, enquanto o indivíduo que declarou apenas metade tem direito a um abatimento de 50% e só paga 20 €. Então, o indivíduo cumpridor terá um rendimento líquido menos propina de 85 € - 40 € = 45 €, enquanto o aldrabão ficará com 92,4 € - 20 € = 72,5 €.

Não obstante as falhas deste exemplo imaginado, procede do exposto que a multiplicação de mecanismos equalizadores a jusante do IRS e partindo da base do rendimento declarado tem o efeito perverso de agravar violentamente a injustiça que, no primeiro momento, decorre da fraude. A conclusão, para mim óbvia, é que o Estado deve preocupar-se em cobrar impostos de forma isenta e descartar as demais políticas de equidade sob pena de, com estas, introduzir uma progressão geométrica da injustiça social.

domingo, agosto 01, 2004

Fahrenheit 9/11

Indeed, the only way to secure the continuance of a popular state is to keep it at war, and create enemies if they do not already exist. This was the chief reason which led Scipio the Younger to try and stop the razing of Carthage. He had the wisdom to foresee that a warlike and aggressive people like the Romans would fall to making war on each other, once all external enemies were disposed of.

Jean Bodin, 1576


Wherever there is great property, there is great inequality. For one very rich man, there must be at least five hundred poor, and the affluence of the rich excites the indignation of the poor, who are often driven by want and prompted by envy to invade his possessions. (...) The acquisition of valuable and extensive property, therefore, requires the establishment of civil government.

(...)

The rich, in particular, are necessarily interested to support that order of things, which can alone secure them in the possession of their advantages.

Adam Smith, 1776


Governments and the ruling classes no longer take their stand on right or even on the semblance of justice, but on a skilful organization carried to such a point of perfection by the aid of science that everyone is caught in the circle of violence and has no chance of escaping from it. This circle is made up now of four methods of working upon men, joined together like the limes of a chain ring.

(...)

The fourth method consists in selecting from all the men who have been stupefied and enslaved by the three former methods a certain number, exposing them to special and intensified means of stupefaction and brutalisation, and so making them into a passive instrument for carrying out all the cruelties and brutalities needed by the government. This result is attained by taking them at the youthful age when men have not had time to form clear and definite principles of morals, and removing them from all natural and human conditions of life, home, family and kindred, and useful labor. They are shut up together in barracks, dressed in special clothes, and worked upon by cries, drums, music, and shining objects to go through certain daily actions invented for this purpose, and by this means are brought into an hypnotic condition in which they cease to be men and become mere senseless machines, submissive to the hypnotiser. These physically vigorous young men (in these days of universal conscription, all young men), hypnotized, armed with murderous weapons, always obedient to the governing authorities and ready for any act of violence at their command, constitute the fourth and principal method of enslaving men.

Leo Tolstoy, 1893


Domingo

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos


Não, não é cansaço...

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Álvaro de Campos