quinta-feira, dezembro 22, 2005

terça-feira, dezembro 20, 2005

Kate Vicente

250 gramas de açúcar
250 gramas de farinha
250 gramas de manteiga
1 cálice de Vinho do Porto
1 chávena de açúcar queimado (caramelo)
5 ovos
2 colheres de chá de fermento em pó
1 colher de chá de açúcar baunilhado
1 colher de chá de canela
A quantidade que se quiser de frutos secos (nozes, amêndoas, pinhões, etc.) picados.

Bate-se a manteiga com o açúcar até ficar um creme branco. Acrescenta-se-lhe os ovos um a um alternadamente com a farinha, batendo entre cada adição. Depois de bem batido, junta-se o Vinho do Porto e as especiarias. Por fim, deita-se o caramelo, devagar, batendo sempre, e os frutos secos picados. Coze-se em forno um pouco brando, a cerca de 180º/190º, durante aproximadamente 55 minutos, numa forma previamente untada com manteiga e polvilhada com farinha. Deixa-se arrefecer na forma e de seguida põe-se no prato de servir.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Na terra dos sonhos do Jorge



Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas frases estudadas do senhor doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Andava eu sózinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher
Mas esqueci-me de lhe dar também um pouco de atenção
E a minha solidão não me largou da mão nem um minuto sequer

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura
Tens de olhar para fora, sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se às duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance, tens de o reencontrar

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar.

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Não há como não o amar.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Sobre as minhas paixões


Descia uma estrada, atravessava uns arrabaldes, trepava para cima de um muro, percorria um pequeno pinhal e, voilá, chegava ao liceu.
De linhas geométricas e austeras, erguia a sua aura misteriosa entre a copa de arvores antigas e pacientes. Os corredores eram largos e compridos, com janelas amplas, de parapeitos largos em toda a sua extensão.
A ligação entre os diferentes edifícios era feita através de portas de madeira que se abriam de par em par para átrios de chão marmoreado e paredes lisas. As portas das salas de aula abriam-se para uma parede repleta de janelas acocoradas nos amplos parapeitos, deixando ver os ramos das árvores lá fora.
Erguendo-se imponente entre os edifícios estava a Torre do Relógio que, durante anos, povoou o imaginário de muitos. A realidade nada ficou a dever à fantasia, mas, "that's another story".
Entre os seus encantos contavam-se ainda o lago dos nenúfares, o "sobe e desce", os abrigos, o muro empedrado e largo que circundava toda a propriedade e as arvores de ramos que convidavam a trepar.
Assim era a Torre da Aguilha em todo o seu esplendor.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Apontamentos sobre o prazer - o prato predilecto

Lembro-me como se fosse hoje do prazer que, em criança, retirava de comer salsinhas com ovos estrelados e batatas fritas. Ah, não havia nada melhor! Nem mesmo o frango assado, que durante anos esteve no top3, alcançava um score tão alto!
Aos fãs revivalistas, aconselha-se uma visita à, internacionalmente famosa, Adega da Barroca.

Saraband

É bela esta dança a dois.
Adorei a fotografia, os actores, os diálogos. Ah, devo dizer que os valorizei ainda mais após experienciar babel nos primeiros 5 minutos de filme. As legendas estavam ilegíveis e Marianne falava-nos pausadamente em sueco. Vi-mo-nos obrigados a abandonar a sala, assistimos a um quase motim mas tudo acabou em bem. Em pouco tempo estavamos todos de volta à sala para apreciar Saraband em toda a sua beleza.

Marianne com a sua expressividade feminina e maternal. Cativante. Johan com a sua armadura à prova de amor... que desconcerto.

Amor, inocência, lascívia e incesto. Tudo envolto em música. Intenso e fugaz, como a vida.

sábado, dezembro 10, 2005

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Elizabethtown

O filme está longe de ser sobrepujante mas não cessa de me supreender que uma miúda tão simpática tenha sido uma horrível vampira quando era pequenina.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Culto do risco

Santorini, Grécia.
Vulcão com 565 m.
36º25'N, 25º25'E.
Última erupção em 1640 B.C.
Escalado em 2002.


Nápoles, Itália.
Vulcão com 1281 m.
40.821°N, 14.426°E
Última erupção em 1944.
Visitado em 2003.


Ilha do Fogo, Cabo Verde.
Vulcão com 2.829 m.
14.9º N, 24.3º W.
Última erupção em 1995.
Escalado em 2004.




quinta-feira, novembro 24, 2005

Pelo sonho é que vamos

Percebi ontem que depois da desilusão (ausência de ilusão e não tanto decepção) é mais fácil conseguir calma e serenidade. Hoje confirmei uma e outra vez! Enquanto temos a ilusão de que qualquer coisa existe achamos que a podemos mudar ou que ela nos pode mudar a nós. Com a desilusão esse desassossego acaba.

Afinal, pelo sonho é que vamos!

terça-feira, novembro 22, 2005

Outra vista de Delft

 Posted by Picasa

Vida santa...

Todos gostamos de saber da existência do "fogo" e que o seu calor nos aqueça... a maioria não se aproxima com medo de se queimar.

Petição pela Salvaguarda do Museu Geológico

Segundo um folheto disponível em linha no sítio da DREL:

O nosso Museu Geológico contém as mais completas colecções de fósseis colhidas em Portugal: ossos e pegadas de dinossauros, grandes mamíferos, peixes, trilobites, amonites, etc, etc., bem como um conjunto espectacular de peças arqueológicas, assim como belos exemplares de minerais (nacionais e estrangeiros) e de instrumentos científicos antigos.

Maria João Rodrigues on basic values

This larger discussion in the Member States should take into account this more general background of the European social model and the new strategic challenges it is facing nowadays. Moreover, its underlying basic values seem also to be under re-interpretation, notably when:

- it is said that security should be for change, and not against change...

segunda-feira, novembro 21, 2005

Mandar pausa

Charme de charmes, tudo é charme. Conheço quem ostente o seu
e-analfabetismo como se de uma marca de nobreza se tratasse. E cola. Amam-se e fazem-se amar por serem assim. De outra classe, de outro tempo. Acima dessa vulgaridade. É tão chique ser ignorante. É tão sexy ser incapaz. Veblen explica, mas isso não traz consolo.

Gilliam on the homeless and Piranesi

It's like moving back in history to an earlier time which is now where the homeless and bums live. They live in this, well, literally they're living in a Piranesi world, as opposed to the modern world.

domingo, novembro 20, 2005

Memória de Escorpião

Let me take you far away
You’d like a holiday
Let me take you far away
You’d like a holiday


Exchange the cold days for the sun
A good time and fun
Let me take you far away
You’d like a holiday


Let me take you far away
You’d like a holiday
Let me take you far away
You’d like a holiday


Exchange your troubles for some love
Wherever you are
Let me take you far away
You’d like a holiday


Longing for the sun you will come
To the island without name
Longing for the sun be welcome
On the island many miles away from home
Be welcome on the island without name
Longing for the sun you will come
To the island many miles away from home

terça-feira, novembro 15, 2005

Ave atque vale

Com o passar do tempo vamo-nos tornando mais corpo. O corpo é assento de saberes. Não é que os velhos saibam mais. Sabem é diferente. Sabem a romãs.

quarta-feira, novembro 09, 2005

A queda de um mito

Passei a vida toda a ouvir que o português tem jeito para as línguas e não-sei-o-que-mais. Mentira. O Eurobarómetro mais recente mostra que só 36% dos portugueses afirmam conseguir manter uma conversa noutra língua. Esta percentagem é idêntica à da Espanha, país que o senso comum aponta como o de maior aversão a línguas estrangeiras. A média na EU25 é 50%.

terça-feira, novembro 08, 2005

França #2

Quando uma caubóiada destas é espontânea, e esta parece sê-lo, torna-se particularmente interessante observar os esforços de apropriação desenvolvidos pelas cabeças falantes. À luz do texto, neste caso, à luz dos automóveis em chamas, emergem comunidades interpretativas que dele extraem o que podem ou querem. Por ser informe, a violência nocturna francesa presta-se a funcionar como teste projectivo, um Rorschach feito já não de borrões de tinta mas de sangue, óleo e fuligem.

França #1

O Público surgiu ontem com uma parangona bem esgalhada mas perfeitamente irresponsável, senão mesmo manipuladora. Falar em 'intifada francesa' é demasiado evocativo na medida em que traz acoplado o tema do choque das civilizações, propagandísticamente caro a quem se sabe, quando este não vem minimamente a propósito. O que se passa em França é, tanto quanto me tem sido possível entender, um puro fenómeno de classe. Não li nada que sugerisse ter esta onda de violência um cerne religioso ou cultural. É preciso um tipo muito especial de pessoa para sugerir que a actual situação é de molde a permitir ao senhor Bush vir dizer: 'eu bem avisei...'

sexta-feira, novembro 04, 2005

Say it isn't so

E não é mesmo. O universo apresenta-se-me de novo de uma forma reconhecível. A inquietação que me habitava ontem dissipou-se como uma tempestade de Verão. O verdadeiro Mal, não sendo um meio mas sim um fim em si, destrói-se a si próprio. É tão simples como isto. Um mecanismo homeostático incorporado na criação.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Horror de horrores

Tenho vivido na convicção de saber a quem Kurtz se refere quando balbucia "O Horror. o Horror." Acontecimentos recentes abalaram-me nesta certeza. O meu Horror, verdadeira emanação antropomórfica da entropia, estropiado estropiante cego até às derradeiras alegrias do sadismo e do masoquismo, parece ter caído vítima de um mal mais mesquinho. Poderá ser? O esteta do mal, aquele que persegue o mal pelo mal sem disso tirar qualquer vantagem ou prazer, vencido por um mal pequeno-burguês, um mal com um objectivo, um mal degradado à condição de meio utilizado para um fim? Temo bem que sim. Sinal dos tempos. O pragmatismo e a mesquinhez ceifam a torto e a direito pelas fileiras da humanidade. Estava habituado à ideia de não haver lugar para santos ou sequer para pessoas moderadamente decentes. Choca-me que também os verdadeiros apóstolos das trevas não tenham lugar na ordem das coisas. É uma ruptura com a minha visão do mundo muito difícil de realizar. Cai Barâd-dur, fecha-se a sala 101, as pessoas perguntam-me: Hannibal quem? E eu não sei.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Estamos tristes

Alguém cometeu um erro clerical no que respeita à data de lançamento do livro do nosso amigo. Era hoje e não daqui a um mês. Ficámos estupidamente em casa ao invés de estarmos lá. Que neura.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Fantasmas

Só a jacquerie é credível enquanto revolução.
Tipos como tu eu não se safam na jacquerie.
Tampouco estou pronto para ser um conservador.

domingo, setembro 25, 2005

Durante muito tempo laborei em erro. Estava convencido de que as pessoas ainda podiam ser cativadas para projectos de mobilidade social colectiva ou, pelo menos, de que me era possível cativá-las para tais projectos. Meia vida volvida e muitas decepções depois, constato que não há silogismo que se possa aguentar em tal premissa maior. Merda.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Soares?

Estou convencido de que foi melhor para nós que Soares tenha vencido Cunhal. Isto não significa que lho perdoe e, muito menos, que nasça daqui uma qualquer lealdade relevante para a próxima eleição do PR.

Promethea dixit

Os mais chatos são invariavelmente os que vêem o seu assunto resolvido em primeiro lugar.

Quão bem ou mal ganha?


Eis um sítio com muito interesse, referenciado pela Organização Internacional do Trabalho.
Aqui podemos encontrar indicadores de salários de cerca de 10 paises europeus, a que se juntam a India, Africa do Sul, Brasil e Estado Unidos.

Quanto ganha, meu amigo? E sabe quanto ganha o seu congénere nos EUA?

Este seria (ou será?) um trabalho de grande relevo do ponto de vista social a desenvolver no nosso país.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Se não há risco, não há gozo

Investigadores da Universidade de Bona ligam a disposição para correr riscos à felicidade, altura, género, idade e escolarização da família de origem.

terça-feira, setembro 13, 2005

segunda-feira, setembro 12, 2005

Domingo Sacramental


Eu sei que isto não é um baby blog!
Foi um Domingo diferente, passado na Serra D'el Rei, numa quinta magnífica, o dia estava bom e deu para passear por lá, por meio de lagos, jardins, crianças, etc. As pessoas estavam bem dispostas e o meu sobrinho estava um encanto, uma delícia. Merece um post!

Baptismus est sacramentum regerationis per aquam in Verbo.

As minhas últimas entradas em igrejas haviam sido nas férias e obedeciam a rituais turísticos e interesses unicamente estéticos:
- Uma igreja visitada em Helsínquia, entre um passeio rápido aos pontos assinalados no guia e uma corrida para o barco que partia sem nós se não nos despachássemos!
Valeu pena a corrida: uma igreja meio sublevada, esculpida na pedra e com um tecto verde em abóbada quase ao nível do solo; Lá dentro algumas pessoas a rezar, outras a tirar fotografias. Cá fora, algumas pessoas deitadas na relva, de biquini, a apanhar as horas mais quentes de um dia com 21 horas de sol;
- outra igreja visitada em Estocolmo que nada tinha de especial a não ser o facto de se situar naqueles jardins gradeados que têm mesas de piquenique ao lado de campas. Pois foi numa dessas mesas de jardim que almoçámos sandochas mistas com tomate e ovos cozidos. Na mesa ao lado da nossa estava um grupo de pessoas, daquelas que parecem retiradas de um filme de Lars von Trier. Entre elas, a mulher do padre /pastor (homem muito jeitoso, por sinal) que vendia bebidas quentes e a quem comprámos um chá para acompanhar a nossa refeição, uma figura meio híbrida que lembrava o Elton John e que mantinha o estilo artístico e maquilhado apesar da idade avançada, uma ou duas paroquianas devotas e com muita idade e um senhor com olhar penetrante e ar absolutamente lunático. Nas campas do jardim havia sempre uma figura paternal sentada (não esquecer que estamos na Suécia, onde são os pais que tomam conta dos filhos), a folhear o jornal com uma mão e a embalar o carrinho do bebé com a outra.

À parte destas recentes visitas há muito que não entrava numa igreja, a não ser para casamentos e baptizados. E hoje foi uma dessas ocasiões. Um baptizado (sacramento da regeneração pela água e pela palavra) com missa!

Ali estava eu! Em vez de admirar o estilo gótico da igreja, por acaso muito bonita, sóbria e despida das habituais figuras religiosas e cenas litúrgicas pintadas nas paredes, em vez de reparar nas beatas do coro e imaginar a semana delas para além do dia Dominical, em vez de desprezar rituais de abnegação e peditório, em vez de admirar paz nas expressões de fé dos crentes que se ajoelham e rezam, resolvi ouvir a palavra do senhor. Do senhor padre!

E assim fiz, mas não sem olhar em redor e observar quem também a ouvia.

O padre contou uma história sobre o perdão, Mt 18, 21-35. Rezava assim:

Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, levaram a ele um que devia dez mil talentos. Como o empregado não tinha com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão e, ajoelhado, suplicava: “Dá-me um prazo. E eu te pagarei tudo”. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado, e lhe perdoou a dívida. Ao sair daí, esse empregado encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem moedas de prata. Ele o agarrou, e começou a sufocá-lo, dizendo: “Pague logo o que me deve”. O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ”‘Dê-me um prazo, e eu pagarei a você”. Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão, e lhe contaram tudo. O patrão mandou chamar o empregado, e lhe disse: “Empregado miserável! Eu lhe perdoei toda a sua dívida, porque você me suplicou. E você, não devia também ter compaixão do seu companheiro, como eu tive de você?’ O patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. É assim que fará com vocês o meu Pai que está no céu, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.»

Pois... não vi ninguém a acenar a cabeça em sinal de concórdia, não senti emoção nas palavras nem vibração nos ouvintes. Um discurso político causa mais impressão, apesar do cepticismo! Tudo me pareceu mecânico. O acólito atento aos pedidos do padre, o coro à espera das entradas, o crente que estuda o momento em que sobe ao altar para ler um qualquer versículo, ainda que não o entenda! Fiquei triste! Ainda que me sinta pouco ou nada tocada pela fé católica preferia pensar que ela realmente existe.

sábado, setembro 10, 2005

Mais do mesmo

Não mata mas mói,
cansa tanto que até dói.

Um belo momento de poesia inspirado na p... da vida

sexta-feira, setembro 02, 2005

A conversão dos capitais segundo Chomsky

Chomsky aproveitou a palestra de aceitação do seu doutoramento honoris causa pela Universidade de Bolonha para racionalizar sobre a ligação entre a sua contibuição para a ciência e o seu activismo político. O título desta entrada é uma hiperligação para o artigo.

A ciência de Chomsky passa-me bastante ao lado. Simpatizo com a política e acho curiosa a fixação em mártires católicos. Não vejo ligação entre uma coisa e outra. O próprio admite que dá barely a hint about the possible connections, a problem still very much on the horizon of inquiry. Confesso-me algo decepcionado.

sábado, agosto 27, 2005

Os Edukadores

Ah, e tal. Dura muito tempo. Não é totalmente parvo. Pelo menos poupa-nos às formas mais evidentes de jactância cinéfila. Nisso é melhor do que a Ilha ou a Fábrica de Chocolate.

A Fábrica de Chocolate

Mais um filme, mais um huis clos. Tempo perdido, pois nunca ninguém o fará melhor do que John Hughes. Recordo o Breakfast Club. Mais intertextualidade. Mais do mesmo. A Bonham Carter está cada vez mais gira. Sorte do Burton. Fazem um casal perfeito. Têm dinheiro a mais.

A Ilha

A Ilha padece de pós-modernidade galopante. Já não há cú para intertextualidades. Arranjem um brinquedo novo. O que é que a Scarlett e o Ewan tinham fumado quando aceitaram trabalhar com o realizador de Armagedão? O filme tem uns bons 50 minutos de correria acéfala a mais. O design está giro: é uma ilha bonita. Saudades da Madonna.

terça-feira, agosto 23, 2005

Robert Anton Wilson on Tim Burton's Batman

The moronic Bronson and Stallone "one man above the law" films glorify vigilantism with the logic of right-wing para-noids. Batman both challenges that folk fascism and poker-facedly "defends" it on the eminently Existentialist grounds that in a universe without morals or meaning everybody has to create their own reality and take responsibility for it.

Robert Anton Wilson in Magical Blend, #25

Piano Man identificado?

A imprensa noticia que o "Piano Man"foi identificado. Que diria Fort da forma como está a ser trabalhada a informação acerca deste Kaspar Hauser moderno?

sábado, agosto 20, 2005

V for Vendetta adiado até 2006

O artigo sugere que por razões políticas. Compreendo: a conjuntura é adversa a que se recupere um livro assim. Há as bombas e o panóptico de câmeras nele previsto cobre já Londres, enquanto a pele do regime endurece de dia para dia.

sexta-feira, agosto 19, 2005

A entrevista - exercício em ruído sináptico

Um objecto que possa interpor ao interlocutor desconhecido que aguardo. Um livro: porque não me ocorreu trazer um livro? Espera! Tenho a moleskine! Salvo! Nada baliza o que sou, ou melhor, o que me quero apresentar como como uma moleskine. Se for efectivemente do meu interesse ficar neste sítio, o meu interlocutor saberá reconhecer este símbolo. Só é pena a caneta, uma miserável ponta de feltro fina, daquelas que recebem rigidez de um exosqueleto de metal. Que será feito da caneta de tinta permanente que costumava usar? Estará arrumada ou perdida? Há peças que faltam. A minha vida é como um motor sem todas as suas partes. Funciona, mas de forma penosa e susceptível de falhar a qualquer momento. Que será feito do X? Há algo que o chateia. As peneiras não o deixam menos perdido do que eu. Só estorvam. Choca-me a forma sistemática, deliberada como procuramos formas de nos sentirmos superiores aos outros. Todo o empenho mesquinho que vai nisso. Se a vida fosse uma contabilidade com duas colunas, uma para os perdidos e outra para os achados, o que ficaria na última? Montes de coisas: a miúda, o cão, a avó. Pessoas e coisas há que teriam de figurar em ambas as colunas. Talvez todas, porque panta rei, omnia mutantur. Eis um dito que daria uma boa tatuagem, força da ironia que nasce da pretensa durabilidade das tatuagens. Começo a ter sono. Já espero há imenso tempo. Vinte minutos desde que cheguei. Dá uma média de uma página, frente e verso, de moleskine por cada quinze minutos. É má onda, deixarem-me esperar tanto? Ou um teste à minha determinação e paciência? Será que vale a pena esperar tanto por uma oportunidade de servir a república portuguesa? Esperei trinta e dois anos. Posso esperar mais um pouco. Temo adormecer se fechar o livro. Vamos ver. Ouço o cumprimento - tee jay. Redes e o que circula nelas, texto fechado e sociabilidade. Tudo muito fluxo, tudo muito elemento água. Mercúrio. Saudade de Parménides. De um tempo de rochas. Scila e Caribdis. Onde figuram estas? Na Odisseia ou na Eneida?

Sexta-feira, 1 de Julho de 2005

Verstehen

Tudo compreender é tudo perdoar? Ou, se a empatia está no cerne do projecto sociológico, podemos ainda falar em ciência? Também há a questão da regra de ouro: pode-se então ser sociólogo, mormente da estirpe Weberiana, sem ser cristão?

quarta-feira, agosto 17, 2005

Ainda a morte do Sr. Menezes

O canal britânico ITV teve acesso a documentos segundo os quais o Sr. Menezes não terá fugido ou saltado o portão, antes terá pago o bilhete, pegado num exemplar de um jornal gratuito e estaria calmamente sentado no metro quando foi imobilizado e, de seguida, abatido.

terça-feira, agosto 16, 2005

WANTED (for Mayor)

Uma eleição é um processo de recrutamento no qual nós, o povo, procuramos encontrar quem melhor nos possa servir gerindo a coisa pública. Tanto quanto sei, há uma bateria de indicadores objectivos - que muito me agradaria ver compilados de forma sistemática (taxas de variação 1985-2002 comparadas com as registadas nos outros municípios de Portugal) - que aponta para este homem como sendo o mais competente para desempenhar as funções em questão:

Isaltino de Morais

Vou por isso votar que lhe dêmos o emprego ao qual se candidata.

Todo o conhecimento é vaidade

E isto é uma má glosa do Eclesiastes mas tinha de ser escrito. Tampouco resulta daqui uma igualdade dos conhecimentos: a hermenêutica e a escolástica, por exemplo, são piores do que o resto na medida em que carecem de virilidade.

segunda-feira, agosto 08, 2005

quinta-feira, julho 14, 2005

UAB anthropologists achieve commitment from Gambian government to prevent female circumcision

Enfim boas notícias. Passo a citar o AlphaGalileo:

Adriana Kaplan, an Anthropologist at the Universitat Autònoma de Barcelona, has achieved a commitment from the Minister of Health and the Vice President of the Republic of The Gambia to draw up a joint plan to prevent female genital mutilation in the country. The move comes after a proposal was drawn up for an alternative ritual procedure that enables female circumcision to be avoided. The proposal was made while maintaining respect and sensitivity towards Gambian culture.

The Universitat Autonoma de Barcelona anthropologist and researcher for the “Ramón y Cajal” scientific programme Adriana Kaplan has achieved a commitment from the Minister of Health and the Vice President of the Republic of The Gambia to draw up a joint plan to prevent female genital mutilation. The move comes following several years of work in the country and the drawing up of a proposal for an alternative ritual procedure that enables female circumcision to be avoided. The proposal was made while maintaining respect and sensitivity towards Gambian culture.

Ten years ago the Government of the Republic of The Gambia made it illegal to carry out any kind of awareness campaigns about the different types of female circumcisions that take place as part of initiation rites for young girls in the country. The stance taken was in response to the aggressiveness used by some NGOs fighting against the practice, which tried to impose their position and were quick to accuse those carrying it out without taking into account the reasons why they did it or the context in which it took place.

Since 1989, Adriana Kaplan, a professor for the Department of Social and Cultural Anthropology at the Universitat Autònoma de Barcelona, has maintained cooperative relations with the Gambian government, especially with the Ministry of Health and the Women’s Bureau, which comes under the President’s Office, as well as with various United Nations agencies and NGOs. Her aim has been to tackle the problem of female genital mutilation from a more respectful and realistic position. One of the main priorities for the researcher has been the problem of girls of Gambian descent born in Spain that travel to The Gambia on holiday and are stigmatised and caught up in a situation that is illegal in Spain: their parents are put in prison and the young girls come under the charge of social services in Spain. As Dr Kaplan affirms, the girls are “victims of tradition and the law”.

Dr Kaplan filmed a documentary called “Initiation without mutilation” with the support of the producers Ovideo TV. The documentary takes an anthropological look at the problem, highlighting the fact that female circumcision is a ritual marking a girl’s coming of age, analysing the different phases of circumcision and suggesting an alternative procedure that maintains the ritual’s meanings of cultural transmission and social belonging without the need for the physical mutilation of the girl.

After seeing the documentary the Vice President of The Gambia, Isatou Njie-Saidy, and the Secretary of State for Health, Yankuba Kassama, have stated in writing an historic commitment to begin to draw up a framework for the prevention of female genital mutilation in The Gambia. These mutilations include clitoridectomy (removal of the clitoral hood), excision (removal of the clitoris and labia minora) and infibulation (removal of the clitoris, the whole of the labia majora and minora and the suturing of both sides of the vulva).
A noção de caminho pressupõe direcções alternativas, não necessariamente acessíveis mas certamente imagináveis. Por conseguinte, surpreendemos Borges em pleno pleonasmo ao escrever-nos sobre 'caminhos que se bifurcam'.

segunda-feira, julho 11, 2005

Livro de férias

Mrs Kesselman said to him through the closet door, 'Look, Mr Gumm. It's clear to us that you belive what you say. But don't you see what you're doing? Because you believe everyone's against you, you force everyone to be against you.'

Philip K. Dick ([1959] 2003) Time out of joint. Londres: Gollancz. p. 130

domingo, julho 03, 2005

terça-feira, junho 21, 2005

Na medida em que adquirimos significado em contexto, na medida em que quem somos é função de com quem vamos sendo, é grande a nossa vulnerabilidade a mudanças bruscas de contexto: ser preso, emigrar, terminar um ciclo de ensino, chumbar, os nossos amigos mudarem de casa, etc. Olhando para trás, encontro na minha vida uma sucessão desses traumatismos. Pergunto-me se lhes sobrevivi. Pergunto-me também se deles fui nascendo. Há que morrer para nascer, afinal.

segunda-feira, junho 20, 2005

Outra prova da existência de Deus

A fineza da ironia que há em a França, nação que de forma mais evidente deve a sua existência à ingerência divina no curso da História, ser o bastião do laicismo.

segunda-feira, junho 13, 2005

Até amanhã camarada


De Álvaro Cunhal
Originally uploaded by Anadil.


Há uns dias liguei a rádio e ouvi o fim de uma notícia: O PCP lamentava a perda de alguém de muitas convicções e ideais que muito contribuiu para a construção do regime democrático, Ministro de quatro governos provisórios, etc...Percebi então que se tratava de Vasco Gonçalves, mas o meu primeiro pensamento foi que teria morrido Álvaro Cunhal. Pensei na perda que seria TAMBÉM a morte deste senhor. E estava tão próxima, só passaram uns dias!

"Tenho visto alguns chamados protagonistas na vida nacional, que, na sua biografia, ou autobiografia, contam como eram em crianças, começam por aí, desde que nasceram. Eu não me lembro do momento em que nasci, o que senti ao chegar cá fora. Mas sei, por informações dos livros e por experiência dos outros, que chorei de certeza."
Cinco conversas com Álvaro Cunhal, Catarina Pires

sexta-feira, junho 03, 2005

quarta-feira, junho 01, 2005

Que se foda a dualidade acção-pensamento e todos os cabrões que nos querem convencer de que há que optar.

segunda-feira, maio 30, 2005

Manuscrito de um 'market researcher'

Admitindo a veracidade da afirmação de Mary Douglas segundo a qual os consumos são uma ferramenta para lidarmos uns com os outros, faz sentido deslocar o foco da nossa atenção dos atributos da marca para os atributos das pessoas que associamos com a marca.

domingo, maio 29, 2005

Um corolário de panta rei

Um corolário de panta rei é a fatalidade da perda. Mas a perda é um efeito do observador. Poderíamos igualmente falar da fatalidade da descoberta.

sexta-feira, maio 27, 2005

Livro do dia

Cá em casa vamos lendo 'Maio e a crise da civilização burguesa' de António José Saraiva, que comprei por impulso e tem sido gratíssima surpresa. Prometo-vos uma ou outra tranche quando tiver tempo para transcrever.

terça-feira, maio 24, 2005

O lucro de um investimento, a ser entendido como remuneração do factor capital, deve ser proporcional à dependência do negócio face a esse factor de produção: grande na indústria pesada e pequena nos serviços. Precisando pouco do factor capital, os serviços seriam, por fatalidade económica, um sector tendencialmente cooperativo. Então porque é que isso não acontece? Porque é que temos grandes empresas de consultoria que tudo o que vendem é a massa cinzenta dos seus assalariados? Como é que o empresário dos serviços faz para extrair mais-valia de pessoas que teóricamente não precisam dele?

segunda-feira, maio 23, 2005

Giddens is right to say that talking about the self as if it's peopled by 'mini-actors' is unhelpful an unnecessary: talking about 'moral conscience' is, for example, a straightforward substitute for 'superego'(or the 'me' and the 'generalised other').

Richard Jenkins (2004) Social Identity. Londres: Routledge. p. 44


Com a justa condenação da metáfora organicista ao círculo do inferno reservado às ideologias autoritárias, perde-se o potencial que esta reservava de fazer ver que a sociedade é tão nojenta como o corpo. A mim repugna-me esta multiplicação purulenta dos vocabulários com a qual se escavam nichos ecológicos para sucessivos estratos de peritos e os seus pretensos saberes. Até onde se vai para vender árvores mortas. A estupefacção é idêntica à que sinto ao ver como é infinito o número de vezes que se consegue vender um predaço de papel brilhante com a foto de uma mulher na capa.

domingo, maio 22, 2005

And each to each other dreams of others' dreams

Na medida em que sejamos ecos, interacções, jogos com espelhos moventes, torna-se importante estabelecer de quem havemos de ser ecos ou reflexos. Ao procurarmo-nos no outro estabelecemos cabalmente a razoabilidade, senão o imperativo ontológico do elitismo. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és, quem queres ser, o que vais sendo. A sociabilidade manifesta um projecto de vida, é a encarnação das orientações teleológicas do nexo que é determinado indivíduo.

segunda-feira, maio 16, 2005

Será que o tipo humano que aqui e agora entendemos sob a designação de 'workaholic' é o que em outros tempos e lugares seria entendido como 'uma vocação'?

quinta-feira, maio 12, 2005

A patologia adora companhia

When you deal with psychotics you're drawn in; you become mentally ill
yourself.

Philip K. Dick ([1964] 2004) The simulacra. Londres:
Gollancz. p. 46

terça-feira, maio 10, 2005

Outra luz azul

Oh, cobarde consciência como me afliges!...
A luz despede clarões azulados!...
É a hora da meia-noite mortal!... Um suor frio encharca a minha carne trémula!...
Pois quê? Terei medo de mim próprio?...
Não há aqui mais ninguém… Ricardo ama Ricardo… É isso; eu sou eu…
Haverá aqui algum assassino?...Não… sim!... Eu?...
Fujamos, então!... O quê? De mim próprio? Valente razão!...
Porquê?... Do medo da vingança! O quê? De mim contra mim?
Ai! Eu amo-me! Por que motivo? Pelo escasso bem que a mim próprio fiz?
Oh, não! Ai de mim!... Deveria antes odiar-me pelas acções infames que cometi!
Sou um miserável! Mas minto: não é verdade… louco, fala bem de ti! Louco, não te adules!
A minha consciência tem milhares de línguas, e cada língua repete a sua história particular, e cada história me condena como miserável!
O perjúrio, o perjúrio em supremo grau!
O assassino, o assassino atroz até aos extremos da ferocidade!
Todos os diversos crimes, todos cometidos sob todas as suas formas, ocorrem para me acusar, e todos gritam: Culpado! Culpado!... Desesperarei! Não há criatura humana que me ame!
E se morrer não haverá uma alma que tenha piedade de mim!...
E porque teria? Se eu próprio não tive piedade de mim!”

(William Shakespeare, Ricardo III)

sexta-feira, abril 29, 2005

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio

No ventre da noite

Há transições brutais: o bilhete é sagrado enquanto estás a bordo e um pedaço de lixo ou um memento mal desembarcas.

quarta-feira, abril 27, 2005

Outro 'cui bono?'

Não há verdadeira fronteira entre informação e propaganda, entre objectividade e ideologia. Não se tratam tampouco dos extremos de um contínuo. A informação pode ser verdadeira ou falsa. É essa a pergunta a fazer perante informação: será verdadeira ou falsa? Mas verdadeira ou falsa a informação é sempre propaganda. E aqui entra a segunda pergunta: de quem?

quarta-feira, abril 20, 2005

quarta-feira, abril 13, 2005

Afinal não é o altruísmo que nos move??

"Na aldeia global, a pobreza de outrem rapidamente se torna um problema nosso: falta de mercados para os nossos produtos, imigração ilegal, poluição, doenças contagiosas, insegurança, fanatismo, terrorismo."

Relatório da Grande Comissão para o Financiamento do Desenvolvimento nomeada pelo secretário-geral das Nações Unidas, in SINGER, Peter, Um só mundo, a ética da globalização, p.33

segunda-feira, abril 11, 2005

Uma posta de Mattoso (pp.35-6)

O impacto d'Os Lusíadas sobre o imaginário nacional é de tal ordem, que se torna difícil exagerá-lo, se não se compara o sentido do seu discurso com o de todos os textos anteriores que já referimos. Exprime uma espécie de euforia resultante da visão da história nacional como um conjunto cujo relato evidencia uma lógica que antes ninguém podia ter percebido. A forma poética, retórica, enfática, do discurso imprime-lhe uma força persuasiva enorme. Aqueles que se consideram membros do mesmo povo não podem deixar de se convencer que aquela é de facto a sua própria história. Assim, os receptores identificam-se eles próprios com os heróis, não como representantes do colectivo que ali desempenha as funções de principal actor. O povo, que até então fora apenas uma massa cinzenta e ignorada, cuja existência só se percebia como suporte da autoridade régia, passa para o primeiro plano das acções heróicas, independentemente de qualquer chefe. É um colectivo, e portanto um ser abstracto, mas, ao tornar-se protagonista de uma história gloriosa, adquire personalidade, isto é, uma identidade compreensível para as mentes mais simples ou mais rudes. Resta o problema de saber quantos portugueses leram o poema, nessa época e no século seguinte...

José Mattoso (2003) A Identidade Nacional. Lisboa: Gradiva.

sexta-feira, abril 08, 2005

CINEMA - Kingkard3

Hide and seek, O amigo oculto

Não aprecio filmes de terror. Acho que já temos suficientes medos na vida real...

Mas lá fui ver e o palpite de que não ia gostar muito não falhou.
Os ingredientes para um filme de terror estão lá todos: crianças, casa no campo, facas, banheira e bonecas de porcelana! Mas até aqui tudo menos mau. O pior é que a história, enredo ou seja lá o que for que se esconde atrás do suspense não me surpreendeu. O desfecho foi previsível e o filme devia acabar mais cedo. Hitchcock sabia que as revelações só devem vir no final!

Robert DeNiro está bem, como sempre!
A pequena actriz - Dakota Fanning - está muito bem caracterizada!

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terça-feira, abril 05, 2005

CINEMA - Kingcard 2

Os tempos que mudam

Gosto muito do Gérard Depardieu;
Gosto muito da Catherine Deneuve;
Gosto muito de cinema francês nem que seja pela sonoridade;
Gosto de retratos da vida real na tela do cinema;

A combinação destes factores não foi suficiente para gostar do filme. Achei fraco, achei-o mesmo uma estopada. Cheio de pontas soltas, sem pretensão no argumento mas pretensioso na técnica de filmagem. Tive pena... estava à espera de gostar!

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CINEMA - Kingcard 1

O Assassínio de Richard Nixon

O argumento é baseado em factos verídicos, na vida de um homem que a própria lucidez levou à loucura. Tolhido numa sociedade em que não se revê, frustrado, angustiado, acaba por transformar Nixon no bode expiatório da mentira e da corrupção planeando o seu assassinato.

O filme é pesado e deprimente, confronta-nos de uma forma fria com tudo o que nos rodeia. Não é excelente, mas a actuação de Sean Penn é-o.

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sábado, abril 02, 2005

It

Aka ourobouros ou o carrossel da gailoa dos hamsters.

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Da depressão como pecado político

Há privilégios fracos, mantidos por um status quo sem combatividade que se aguenta apenas na medida em que não é desafiado. 'Perturbam os homens não as coisas mas a opinião que têm delas'. A depressão psicológica individual é um sustentáculo desses poderes. Mostrem-me um depressivo que eu mostro-vos um dominado. E, perdoem-me o voluntarismo, mas a causalidade é do primeiro para o segundo termo. Não me venham com dialécticas. O ouroboros é uma figura do desespero. Aí sou eu que me vou abaixo. O meu problema é como quebrar todos esses malvados ciclos que nos aprisionam. O enigma passa então a ser a localização das nascentes da depressão.

As coisas que o espaço tem. Posted by Hello

sexta-feira, março 25, 2005

Naco de 'Solar lottery' (p.23)

The checks and balances of this system work to check us and balance them.

Philip K. Dick ([1955] 2003) Solar lottery. London: Gollancz.

quinta-feira, março 24, 2005

O que vale o trabalho? O que vale o capital?

Há maneira objectiva de o determinar? Por outras palavras: pode o valor de um factor de produção (ou de outra coisa qualquer?) ser dissociado da luta social e política? Sei por formação que não. Mas hoje tive a experiência subjectiva, inspirada mas quase corpórea, da realidade de um facto até então meramente memorizado.

domingo, março 20, 2005

Presença do mar



Caminhar ajuda nos momentos difíceis. Sempre pensei que a escola peripatética poderia ser uma corrente da psicoterapia. Em dias como este, húmidos e quentes, a força da terra é algo que se sente mesmo quando não se está à sua procura. E regenera. Drácula, para onde quer que fosse, levava caixas do seu solo natal (mortal?). A vegetação da nossa orla costeira partilha da natureza do fantástico. Os dragoeiros e aloés parecem saídos de uma vinheta de Jacobs ou Franquin. Tenho pena de não saber o nome de mais espécies, vegetais ou animais, de mais estrelas. Enfim chove.

sexta-feira, março 18, 2005

Máquinas que geram máquinas

A tecnologia permanece a mais credível fonte de mudança social. Há na universidade de Bath um projecto que visa revolucionar por completo a economia-mundo.