quinta-feira, setembro 30, 2004

A Ursa Maior

Cortesia de Simon Patterson

Uma janela com vista para o Danúbio




A Idade da Inocência (Parte I)


La Inocencia de Ayer/Yesterday's Innocence
by MujerArtes Cooperative (colective piece)

Originally uploaded by Anadil.

Julguei noutros tempos que a idade da inocência era aquela em que as nossas crenças eram impermeáveis, críamos nas nossas verdades de uma forma tão cândida quanto as construíamos. Hoje creio que essa idade é bem mais breve, bem mais tenra. A idade da inocência é aquela em que ainda não (re)conhecemos crenças.
Julguei noutros tempos que para uma criança o importante era não chover para poder ir brincar para a rua. Hoje creio que, faça chuva ou faça sol, nos écrans das playstations os desafios são muito diferentes do que era imaginar os desfechos das histórias da Enid Blyton.
Julguei noutros tempos que quando crescesse podia fazer mais, podia mudar o mundo. Hoje creio que as forças de que despendo são para que ele não me mude a mim. E às vezes sinto-me sem forças...



quarta-feira, setembro 29, 2004

Parménides sorriu-me ao almoço. Apercebi-me de que o culto da Grande Mãe vive ainda. As estatuetas paleolíticas e a garrafa da Coca-Cola são pontos da mesma linha. Uma que nos cose.

Justificação pelo Império ou as árvores da vida

Cortesia de Gustav Klimt

Nos últimos dias tenho encontrado espirais Klimt por todo o lado. Em Budapeste era possível justificá-las pelo império Austro-Húngaro, unidade político-geográfica onde eclodiu a Secessão, movimento artístico que Klimt integrava, mas é mais difícil justificar a sua presença nas montras do Cortes da Avenida António Augusto Aguiar ou na capa de um livro que a Promethea lia ontem ao pequeno-almoço.

Surfar, inteligir, grocar

Esta imagem do 'passive rider' que Pynchon conjura no fragmento que transcrevi é claramente tributária de Marx e do I-Ching. Muitas vezes tenho pensado na vida através da metáfora do surfista que, graças a uma utilização inteligente da sua fraca força, consegue cavalgar a energia titânica do Oceano. Foi pois um efeito de reconhecimento o que experimentei ao ler este naco de prosa sob a chuva miudinha que penetrava o manto de bruma à tona da piscina aquecida exterior do Gellert.

terça-feira, setembro 28, 2004

A esfinge da Ópera de Budapeste


A esfinge da Ópera de Budapeste
Originally uploaded by Frater Caerulus.


Excerto de Vineland (p.37)

"Frenesi had ridden into his life like a whole gang of outlaws. He felt like a schoolmarm. He was working gypsy construction jobs by day and palying at night with the Corvairs, never anyplace near the surf but inland, for this sun-beat farm country had always welcomed them, beer riders of the valleys having found strange affinities with surfers and their music. Besides a common interest in beer, members of both subcultures, wether up on a board or behind a 409, shared the terrors and ecstasies of the passive, taken rider, as if a car engine held encapsulated something likewise organic and mighty - a technowave, belonging to distant others as the surf belongs to the sea, bought into by the riders strictly as-is. on the other part's terms. Surfer's rode God's ocean, beer riders rode the momentum through the years of the auto industry's will."

Thomas Pynchon (2000) Vineland. Vintage, London.

Business as usual

segunda-feira, setembro 27, 2004

Libido mutandis

E se houvesse uma 'libido mutandis' com expressões legítimas e ilegítimas, sendo a moda e as nãotícias claros exemplos deste último grupo, sendo os penteados e os presidentes as coisas que mudam para que tudo possa ficar na mesma.

O consumo como sucedâneo da individuação e as eleições periódicas como travão à revolução social. O hábito não faz o monge, claro, mas o uso do hábito talvez levasse a libido mutandis a expressar-se em sectores das nossas vidas onde tenha efectivamente um papel válido a desempenhar.

Mais tarde. Um pouco de autocrítica: durante as férias li o Vineland do Pynchon - prometo aqui publicar algumas postas sumarentas assim que tiver tempo de as transcrever. Neste romance, a personagem que emana da totalidade negativa - o acusador Brock Vond - usa o termos 'neofobia' (medo do que é novo) para designar uma condição cujo atenuamento estaria na origem de diversas «patologias sociais». O que faço, no fundo, com esta proposta de pensarmos em termos de libido mutandis é apenas uma rudimentar inversão de perspectiva.

Nãotícias

Depois um jejum de oito dias, fiz um upload de mais de duas horas de notícias, oriundas de orgãos de comunicação vários.
Acho que devo repetir a experiência alterando a componente "dias" para "meses" e proceder a novos testes.
Over, but not out.

sexta-feira, setembro 17, 2004

Requisitei o chef Hamakune para nos cozinhar a última refeição antes de voarmos para Budapeste. Não resisto a piratear um naco gordo de uma sua conversa telefónica acerca de provas de Português: «Tu sabes o que é uma oração subordinada? Tu sabes o que já esqueceste!».
Nós não somos pessoas boas. Dizemos que queremos ser melhores mas nunca ou quase nunca fazemos algo a esse respeito. São hipocrisia as minhas próprias diatribes contra o consumismo. Que credibilidade tem a classe média-alta como força revolucionária?

A Venus adormecida

A Venus Adormecida, Paul Delvaux, 1944

quarta-feira, setembro 15, 2004

O imigrante nunca existiu

Às definições de imigrante teremos de chamar multidão, porque são muitas. Há quem defina imigrante como alguém que não residindo num país entra neste com a intenção de aí residir e há também quem dê ao conceito um cunho mais económico, entendendo por imigrante todo o estrangeiro que vem para Portugal à procura de trabalho ou para ocupar um trabalho que tenha conseguido antes de deixar o país de origem. Estas divergências, longe de serem idiossincrasias individuais, revelam de perspectivas ligadas a campos do saber e interesses diferentes e condensam-se na produção normativa, mais ou menos oficial, das instituições que federam tais interesses.

O Instituto Nacional de Estatística, por exemplo, reconhece dois tipos de imigrante, o permanente o temporário. Para efeitos estatísticos, o imigrante permanente é então o indivíduo que entrou no país com a intenção de aqui residir por um período superior a um ano, tendo residido no estrangeiro por um período contínuo superior a um ano. Por sua vez, o imigrante temporário entrou no país com a intenção de aqui permanecer por um período igual ou inferior a um ano, com o objectivo de trabalhar numa ocupação remunerada, tendo residido no estrangeiro por um período continuo superior a um ano, sendo que são ainda considerados imigrantes temporários os familiares e acompanhantes dos indivíduos com as características acima enunciadas. Mas o retrato robot do imigrante que surge no artigo 11.º da Convenção n.º 143 da Organização Internacional do Trabalho é bastante diferente; aí considera-se que para fins de aplicação do disposto nesta parte II da Convenção, o termo «trabalhador migrante» designa uma pessoa que emigra ou emigrou de um país para outro com o fim de ocupar um emprego não por conta própria, seguindo-se uma lista de excepções.

O campo semântico da palavra «imigrante» situa-se pois na intersecção das esferas de influência de diversos saberes e poderes. Essa situação conduz à multiplicação das variáveis pertinentes para a formação de um conceito de imigrante. Estas compreendem, pelo menos, a nacionalidade, a naturalidade, a intenção económica, a residência, o tempo de permanência, a legalidade e a situação na profissão. Se adoptássemos o pressuposto simplificador de que cada uma destas variáveis assume apenas duas modalidades, teríamos 27, ou seja, 128 combinações possíveis.

Há quem se tenha posto a reflectir sobre isto e vindo a concluir que, sendo a migração trânsito, fluxo, mudança, é falacioso derivar quaisquer substantivos dessa experiência fugaz. Sempre que chamamos alguém de emigrante ou imigrante estamos a perpetuar a migração, a condenar essas pessoas a uma viagem na qual, à semelhança da flecha de Zenão, nunca atingirão o destino. Não é inconsequente este tomar de um momento fugaz da trajectória de vida de um conjunto de pessoas por um seu traço fundamental. Os recursos e oportunidades de que estas pessoas dispõem a partir da imposição desse estigma, a sua subsequente percepção por terceiros e a própria visão que passam a ter de si conspiram, em tais situações, para que o conjunto se torne um grupo.

Afinal, ser é ser percepcionado e é com a ajuda de representações e de regras que justificam a diferenciação entre grupos que estes grupos se tornam ou continuam uma realidade. Esta mesma ideia foi já introduzida no campo da reflexão académica sobre imigração por Noiriel, afirmando este autor que o controlo burocrático determina a identidade dos imigrantes. Do exposto resulta que o «problema dos imigrantes», seja qual for a sua formulação, pertence, em grande medida, à categoria das profecias que se cumprem a si próprias.

Nem podia ser de outra forma. O controlo de estrangeiros é, tanto por razões simbólicas como por razões materialistas, condição necessária da constituição e manutenção do Estado. O conceito de estrangeiro é gémeo indissociável do conceito de cidadão; separados um do outro, nenhum dos dois tem qualquer sentido. Tal fica estabelecido por uma leitura, ainda que superficial, da sua actual fórmula legal: Para efeitos do presente diploma, considera-se estrangeiro todo aquele que não prove possuir a nacionalidade portuguesa. Note-se a presunção da culpa; quem não prove ser português será estrangeiro e, já que não tem qualquer documento que ateste a sua nacionalidade, seja esta qual for, como seria o caso de uma autorização de permanência ou residência, é também ilegal.

A própria União Europeia reconhece a confusão entre «imigrantes», «minorias étnicas», etc. e empenha-se no combate ao racismo e à xenofobia mas falha em reconhecer no «problema dos imigrantes» as características de um pânico moral, isto é, das reacções exageradas e amplificadas pelos meios de comunicação de massas que, segundo alguns autores, servem o status quo na medida em que se tornam pretextos para um “cerrar de fileiras” face a um inimigo comum. Esta ideia é tudo menos nova e remonta, pelo menos, até Jean Bodin, que constatava haver apenas uma forma de assegurar a continuidade de um Estado democrático: mantê-lo num estado de animosidade belicosa para com terceiros. E caso não haja inimigos, torna-se necessário inventá-los, sob pena de a discórdia grassar na república. Não é por acaso que o "choque das civilizações" feito realidade no 11 de Setembro é também susceptível de ser lido a esta luz.

Embora desde sempre as pessoas se tenham movido de uma região para outra, as migrações internacionais são um fenómeno inequivocamente moderno: para que as migrações fossem internacionais houve que esperar pela invenção dessa instituição fundamental da modernidade que é o Estado-nação. A par de um nacionalismo que se define por referência a uma comunidade imaginada e aspira a realizar-se num Estado-nação, a modernidade caracteriza-se também pelo capitalismo. E a imigração é precisamente um ponto onde as posições do nacionalismo e do credo económico liberal, que serve de ideologia do capitalismo nas sociedades ocidentais contemporâneas, se revelam irreconciliáveis.

Do ponto de vista de uma análise económica informada pelo paradigma liberal, as bases para a defesa da livre circulação do factor trabalho estão solidamente asseguradas, não havendo, portanto, argumento económico válido para a restrição das migrações internacionais. Contudo, os indivíduos e instituições para os quais o nacionalismo é uma coordenada fundamental da sua identidade não podem senão sentir o tratamento equitativo do outro como uma ameaça ontológica. O conceito de imigrante ganha pois a sua panóplia de significados e conotações neste conflito entre aspectos complementares de uma mesma corrente histórica.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Da miséria na vida de estudante

Foram ontem publicados os resultados da primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior. Em face da efeméride, convido-vos a ler ou reler o texto velhinho (é de 66) a que podem aceder através da hiperligação embebida no título desta entrada.

Pontapé na Gramática

Ainda sobre a epígrafe educação, aqui fica para aguçar o apetite pela correcção no uso da língua de Camões:

- Não diga a gente vamos, diga a gente vai;

- Não diga aumentar de 50 por cento ou em 50 por cento, diga aumentar 50 por cento;

- Não diga contactar uma pessoa, diga contactar com uma pessoa;

In Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem, de Rodrigo Sá Nogueira

sábado, setembro 11, 2004

Hoje é o meu dia de rebelião!

Proponho que o governo seja aumentado em função da sua produtividade.
O Estado ainda tem funções? Vejamos se se cumprem e aumentem-se os salários. Afinal obra feita deve ser mais do que Estádios de Futebol.

O custo de vida em França é 3 vezes superior ao nosso (Aloysius?), para justificar que o salário mínimo também seja? Algumas análises dizem que não: um estudo acerca de produtos alimentares mostra que em Portugal o salário mínimo dá para adquirir 7,7 cabazes e em França (produtos similares) dá para adquirir 16, 5. Considerando o horário médio de 8 horas por dia de trabalho e 22 dias úteis por mês, um portguês que ganhasse o salário mínimo precisava de trabalhar 23 horas para adquirir os 20 produtos do cabaz, enquanto que um trabalhador em França necessitava apenas de 11 horas.(Direcção Geral da Empresa)

Porque será que no Luxemburgo os trabalhadores (muitos portugueses) produzem para justificar este salário mínimo?

Salário Mínimo na Europa
Luxemburgo-1369 euros
Holanda-1249 euros
Bélgica-1163 euros
França-1154 euros
Reino Unido-1105 euros
Irlanda-1073 euros
Grécia-605 euros
Malta-535 euros
Espanha-526 euros
Eslovénia-451euros
Portugal-356,6 euros
Hungria-212 euros
Polónia-201 euros
Rep. Checa-199 euros
Turquia-189 euros
Estónia-138 euros
Lituânia-125 euros
Rep. Eslovaca-118 euros
Letónia-116 euros
Roménia-73 euros
Bulgária-56 euros
Eurostat, Janeiro de 2003


Síntese

Portugal é, com efeito, um pais pequeno com ideias de bolso.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Minudências


O pensador de Rodin
Originally uploaded by Promethea.

Egos, vaidades e vestes puídas; gente, com soberba, pequena, com ideias pequenas; e minudências, coisinhas pequeninas feitas grandes por pessoas pequenas com egos grandes.
Humpft! Cabeceiras, pedestais e coisas que tais! Pequeno, pequeno, pequeno e...chato! Olhos que pesam em mesas cheias de verbosidades e pernas que cruzam e descruzam ao ritmo das onomatopeias. Pernas, robustas, torneadas, no fundo de costas altas com ripas, onde me reclino e penso...pequeno.

"Der Untergang"

Berlin, 1945. Oliver Hirschbiegel retrata "Der Untergang" ou o crepúsculo do homem que marcou este período da história da humanidade: Hitler. Humanização do ditador ou simplesmente outra forma de ver a mesma história?
O trailer pode ser visto aqui
.

quinta-feira, setembro 09, 2004

quarta-feira, setembro 08, 2004

The Office at Night

The Office at Night, Edward Hopper, 1940

Uma cortesia à simplicidade...


Interf-mulh-agua
Originally uploaded by Anadil.


"Lágrima de preta"

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)

Um presente...


Repucho Paço d'Arcos
Originally uploaded by Anadil.

Um pequeno presente os já estão saudosos do presente...à infância sem amnésia. Perdemos momentos ganhamos memórias. Por vezes o presente é mais belo!


Palpites...

"Eu penso que há um mercado mundial só para 5 computadores."
Presidente da IBM ,Thomas Watson, 1947

segunda-feira, setembro 06, 2004

Anamnese

Perdi o esquecimento ao visitar hoje os meus pais: o que admiro nos apartamentos antigos, sobretudo lisboetas, que os meus amigos alugam e vou visitando é a possibilidade de neles revisitar o espaço da minha infância. Isto parece misterioso na medida em que cresci nos subúrbios. Suspeito que o efeito nostálgico beneficia, para além de marcas do tempo tais como o estilo dos utensílios de cozinha ou dos azulejos, do pé direito mais alto que caracteriza os edifícios mais antigos: sinto-me decrescer na medida em que aumenta a minha distância ao tecto. Nessas casas apresenta-se-me a oportunidade maravilhosa de ser de novo pequeno. Por muito que viva sem remorsos é inegável o glamour da infância. A infância é cinemascope e technicolor. A infância ou é a preto-e-branco ou tem as cores de fotografias dos anos setenta.

Dias atrás tinha constatado o mesmo de outra forma: estar sentado no chão de um espaço que usualmente se frui (?) de pé ou sentado numa cadeira é algo que transfigura e reencanta esse mesmo espaço. Tentei-o no local de trabalho e comparo-o com vantagem ao simples correr nú pelos corredores, que experimentei há uns anos.

Enfim, nem só de se escrever em público vive o exibicionista.

domingo, setembro 05, 2004

e as gargulas sempre atiram pedras?

Do alto de mais de 700 anos de história,
no coração da cidade,
estão as amigas de Quasimodo, cumprindo o ritual antigo de afastar os demónios do templo.
Dizem que atiram pedras...

É verdade reporter X?


Gargula Notre Dame
Originally uploaded by
Promethea.

The Matrix Recuperated

Sabemos que os irmãos Wachowski se venderam. Antes deles, vendera-se as T-shirts do Che (in hoc signo vinces?). Mas que queremos dizer com isso? Serão recuperação ou comodificação versões contemporâneas da categoria medieval do pacto com o Adversário? Implicamos que quem se vende faz o mesmo que Fausto? Como funciona isso com a secularização, pelo menos exterior, do nosso modo de vida?

sexta-feira, setembro 03, 2004

quarta-feira, setembro 01, 2004

Hipótese

Com o 25 de Abril a nossa classe superior, até então francófona e francófila, passa a ter uma formação anglo-saxónica. Tornámo-nos periferia de um outro centro.

Tira o véu... Tira o véu

Bem... A Promethea lançou uma deixa (ver post sobre as pontes de Paris) que não posso deixar passar em branco. A da tolerância francesa. Penso que se referia à proibição do uso do véu islâmico nas escolas francesas. Confesso que até há pouco tempo eu era partidário do uso do véu e de qualquer tipo de vestuário ou sinal distintivo com o qual o individuo se quisesse distinguir ou identificar, porque era pela tolerância e liberdade de escolha e expressão. Continuo a sê-lo e só lendo alguns artigos e opiniões de professores, políticos e jornalistas consegui perceber o porquê da proibição e a unanimidade expressa pelos políticos franceses em relação ao assunto. Mudei claramente de opinião ao ler uns artigos de jornais sobre o assunto e falar com alguns amigos que me convenceram que estava errado. Isto não tem nada a ver com direita e esquerda, mais ou menos conservadorismo... etc... Percebi que afinal o uso do véu não era sinónimo de escolha e liberdade.
Penso que é um bom tema de debate para o nosso blog.

Penso que laicidade não é tolerância para tudo, sobretudo ser tolerante pela falta de liberdade. Que liberdade tem uma menina de 12 anos, que vai à escola com outros meninos e cujos pais a obrigam a usar o véu, sem ela perceber porquê ou para quê? Que chega a cantina e é obrigada a usar o véu para comer sob o olhar dos outros meninos que a vêm como algo de anormal? Não deve ser a escola promotora da liberdade de expressão e de escolha? Até onde é capaz de ir o ensino da liberdade perante numa relação de forças com fanatismo e opressão? O véu islâmico é o símbolo da discriminação e da subjugação da mulher, não é símbolo de liberdade e de igualdade entre o homem e a mulher. Não venham dizer que a lei não seria necessária e que as jovens teriam poder de escolha se a escola as instruisse para tal. Há raparigas em França que em certos bairros se não usarem o véu são apedrejadas... Que liberdade têm elas de não usar o véu na escola entre crianças do mesmo bairro? A escola Laíca deseja que o regime das afirmações de diferenças seja compatível com o universalismo dos direitos e uma liberdade reconhecida a cada qual de se definir, de se redefinir, sem ter que se submeter à obediência de um grupo. A França não é um país de fanatismo onde devem criar raizes grupos que não reconhecem a liberdade da mulher em aprender a ser quem quiser ser. Não estamos a falar da proibição do uso do véu na rua, na mesquita, em casa... Estamos a falar da proibição do uso nas escolas, lugar de aprendizagem, laíco e de liberdade, lugar de formação do indíviduo. Não lugar de opressão. Não se trata de racismo religioso, o que não falta em França é liberdade religiosa... mas daí até fanatismo.

Lanço o debate... espero respostas, talvez cheguemos a uma conclusão.