segunda-feira, maio 30, 2005

Manuscrito de um 'market researcher'

Admitindo a veracidade da afirmação de Mary Douglas segundo a qual os consumos são uma ferramenta para lidarmos uns com os outros, faz sentido deslocar o foco da nossa atenção dos atributos da marca para os atributos das pessoas que associamos com a marca.

domingo, maio 29, 2005

Um corolário de panta rei

Um corolário de panta rei é a fatalidade da perda. Mas a perda é um efeito do observador. Poderíamos igualmente falar da fatalidade da descoberta.

sexta-feira, maio 27, 2005

Livro do dia

Cá em casa vamos lendo 'Maio e a crise da civilização burguesa' de António José Saraiva, que comprei por impulso e tem sido gratíssima surpresa. Prometo-vos uma ou outra tranche quando tiver tempo para transcrever.

terça-feira, maio 24, 2005

O lucro de um investimento, a ser entendido como remuneração do factor capital, deve ser proporcional à dependência do negócio face a esse factor de produção: grande na indústria pesada e pequena nos serviços. Precisando pouco do factor capital, os serviços seriam, por fatalidade económica, um sector tendencialmente cooperativo. Então porque é que isso não acontece? Porque é que temos grandes empresas de consultoria que tudo o que vendem é a massa cinzenta dos seus assalariados? Como é que o empresário dos serviços faz para extrair mais-valia de pessoas que teóricamente não precisam dele?

segunda-feira, maio 23, 2005

Giddens is right to say that talking about the self as if it's peopled by 'mini-actors' is unhelpful an unnecessary: talking about 'moral conscience' is, for example, a straightforward substitute for 'superego'(or the 'me' and the 'generalised other').

Richard Jenkins (2004) Social Identity. Londres: Routledge. p. 44


Com a justa condenação da metáfora organicista ao círculo do inferno reservado às ideologias autoritárias, perde-se o potencial que esta reservava de fazer ver que a sociedade é tão nojenta como o corpo. A mim repugna-me esta multiplicação purulenta dos vocabulários com a qual se escavam nichos ecológicos para sucessivos estratos de peritos e os seus pretensos saberes. Até onde se vai para vender árvores mortas. A estupefacção é idêntica à que sinto ao ver como é infinito o número de vezes que se consegue vender um predaço de papel brilhante com a foto de uma mulher na capa.

domingo, maio 22, 2005

And each to each other dreams of others' dreams

Na medida em que sejamos ecos, interacções, jogos com espelhos moventes, torna-se importante estabelecer de quem havemos de ser ecos ou reflexos. Ao procurarmo-nos no outro estabelecemos cabalmente a razoabilidade, senão o imperativo ontológico do elitismo. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és, quem queres ser, o que vais sendo. A sociabilidade manifesta um projecto de vida, é a encarnação das orientações teleológicas do nexo que é determinado indivíduo.

segunda-feira, maio 16, 2005

Será que o tipo humano que aqui e agora entendemos sob a designação de 'workaholic' é o que em outros tempos e lugares seria entendido como 'uma vocação'?

quinta-feira, maio 12, 2005

A patologia adora companhia

When you deal with psychotics you're drawn in; you become mentally ill
yourself.

Philip K. Dick ([1964] 2004) The simulacra. Londres:
Gollancz. p. 46

terça-feira, maio 10, 2005

Outra luz azul

Oh, cobarde consciência como me afliges!...
A luz despede clarões azulados!...
É a hora da meia-noite mortal!... Um suor frio encharca a minha carne trémula!...
Pois quê? Terei medo de mim próprio?...
Não há aqui mais ninguém… Ricardo ama Ricardo… É isso; eu sou eu…
Haverá aqui algum assassino?...Não… sim!... Eu?...
Fujamos, então!... O quê? De mim próprio? Valente razão!...
Porquê?... Do medo da vingança! O quê? De mim contra mim?
Ai! Eu amo-me! Por que motivo? Pelo escasso bem que a mim próprio fiz?
Oh, não! Ai de mim!... Deveria antes odiar-me pelas acções infames que cometi!
Sou um miserável! Mas minto: não é verdade… louco, fala bem de ti! Louco, não te adules!
A minha consciência tem milhares de línguas, e cada língua repete a sua história particular, e cada história me condena como miserável!
O perjúrio, o perjúrio em supremo grau!
O assassino, o assassino atroz até aos extremos da ferocidade!
Todos os diversos crimes, todos cometidos sob todas as suas formas, ocorrem para me acusar, e todos gritam: Culpado! Culpado!... Desesperarei! Não há criatura humana que me ame!
E se morrer não haverá uma alma que tenha piedade de mim!...
E porque teria? Se eu próprio não tive piedade de mim!”

(William Shakespeare, Ricardo III)