terça-feira, maio 10, 2005

Outra luz azul

Oh, cobarde consciência como me afliges!...
A luz despede clarões azulados!...
É a hora da meia-noite mortal!... Um suor frio encharca a minha carne trémula!...
Pois quê? Terei medo de mim próprio?...
Não há aqui mais ninguém… Ricardo ama Ricardo… É isso; eu sou eu…
Haverá aqui algum assassino?...Não… sim!... Eu?...
Fujamos, então!... O quê? De mim próprio? Valente razão!...
Porquê?... Do medo da vingança! O quê? De mim contra mim?
Ai! Eu amo-me! Por que motivo? Pelo escasso bem que a mim próprio fiz?
Oh, não! Ai de mim!... Deveria antes odiar-me pelas acções infames que cometi!
Sou um miserável! Mas minto: não é verdade… louco, fala bem de ti! Louco, não te adules!
A minha consciência tem milhares de línguas, e cada língua repete a sua história particular, e cada história me condena como miserável!
O perjúrio, o perjúrio em supremo grau!
O assassino, o assassino atroz até aos extremos da ferocidade!
Todos os diversos crimes, todos cometidos sob todas as suas formas, ocorrem para me acusar, e todos gritam: Culpado! Culpado!... Desesperarei! Não há criatura humana que me ame!
E se morrer não haverá uma alma que tenha piedade de mim!...
E porque teria? Se eu próprio não tive piedade de mim!”

(William Shakespeare, Ricardo III)

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