quarta-feira, novembro 02, 2005

Horror de horrores

Tenho vivido na convicção de saber a quem Kurtz se refere quando balbucia "O Horror. o Horror." Acontecimentos recentes abalaram-me nesta certeza. O meu Horror, verdadeira emanação antropomórfica da entropia, estropiado estropiante cego até às derradeiras alegrias do sadismo e do masoquismo, parece ter caído vítima de um mal mais mesquinho. Poderá ser? O esteta do mal, aquele que persegue o mal pelo mal sem disso tirar qualquer vantagem ou prazer, vencido por um mal pequeno-burguês, um mal com um objectivo, um mal degradado à condição de meio utilizado para um fim? Temo bem que sim. Sinal dos tempos. O pragmatismo e a mesquinhez ceifam a torto e a direito pelas fileiras da humanidade. Estava habituado à ideia de não haver lugar para santos ou sequer para pessoas moderadamente decentes. Choca-me que também os verdadeiros apóstolos das trevas não tenham lugar na ordem das coisas. É uma ruptura com a minha visão do mundo muito difícil de realizar. Cai Barâd-dur, fecha-se a sala 101, as pessoas perguntam-me: Hannibal quem? E eu não sei.

1 comentário:

Anadil disse...

Hannibal Cavaco Silva! :-)