quarta-feira, agosto 18, 2004

Ao cinema

A propósito das matinés, repesquei da minha memória os bancos de madeira do clube da minha terra, onde passavam as fitas antigas do "Santo" e do "007". Esse foi o primeiro espaço a que chamei cinema. Tenho uma vaga ideia da parafernália de objectos que desciam à sala para a projecção do filme e o barulhinho de fundo que se fazia ouvir à medida que a fita se desenrolava, envolvendo-nos naquela fantasia.
O cinema foi uma grande invenção caramba!
Bravos rapazes, os irmãos Lumière.

Affiche Brispot
Originally uploaded by Promethea.

2 comentários:

Frater Caerulus disse...

Aconteceu-me ontem obter convites para a ante-estreia de um filme francês com a Fanny Ardant e o Gerard Depardieu. Nathalie, creio que é assim que se chama. É voyeurismo conservador do pior. Aconselho-vo a que fujam dele como o diabo da cruz.

Frater Caerulus disse...

O meu primeiro movimento de alma foi responder-te que nunca frequentei o balcão. Que isso era para pequeníssimos burgueses, vulgo proletários dos serviços ébrios de falsa consciência de classe. Mas há um problema com essa resposta: seria falsa.

Estive no balcão mas a dada altura desci dessa posição efeminada e aborrecida para a plateia, onde estava o lumpen e as coisas aconteciam. Ensaiei uma trajectória descendente. Fi-lo por puro enfado. A certa altura acobardei-me, mas ainda sinto o enfado. A minha imagem da sociedade é uma geografia dos lugares a onde não pertenço.

Esse cinema já não existe. Já não há cinemas com balcão. Trata-se, certamente, uma conquista de Abril. Pura maquilhagem, como tantas. A plateia persiste nas salas do Colombo e o balcão na Medeia.

Parménides 1 - Heraclito - 0.