terça-feira, agosto 10, 2004

Utopias

A igualdade de oportunidades à partida é condição necessária do esquema meritocrático liberal - ou seja, de uma desigualdade legítima à chegada - que sem ela não faz qualquer sentido. Esta igualdade só poderia ser garantida pelo triunfo absoluto da escola sobre a sua Némesis funcional: a família, o que não é minimamente plausível. Resulta então que este programa social é tão utópico como o mais estouvado dos egalitarismos, ou melhor, que é apenas "realista" no sentido em que serve de isco ideológico numa realpolitik da reprodução social.

1 comentário:

brunopeixe disse...

Donde se constata mais uma vez quão escorregadia é a linha entre utopia e ideologia. Talvez um olhar aos proponentes ajude: a meritocracia foi sempre um discurso dos "have" and "have more" que, como bem argumentas, assenta num mito original, o da igualdade à partida. Mas como não existe um zero do social, não existe partida nem chegada. Só um estado das coisas assente na desigualdade. Este estado de coisas foi desafiado algumas vezes, nomeadamente na revolução francesa e russa, mas reconfigurou-se sobre essa forma de desigualdade que hoje é hegemónica e que podemos chamar de capitalo-parlamentarismo. Achar uma forma não autoritária de lhe ser heteregéneo, eis a nossa tarefa.