Alma quebrada pela força das vagas
De encontro às fragas da vida.
Chegada indigente à terra prometida.
Mar atravessado a nado-morto.
Jaz na praia.
O vento escapa por entre farrapos de velame
Feitos bandeiras da ressaca,
Pendões de não-há-quem-te-ame.
Jaz na praia com o resto do lixo
Que aí abandonou a baixa-mar:
Um maço de tabaco vazio
E uma colecção de noites insones presas com um elástico.
Mas eis a manhã; a bela chegou,
Zombeteira, luminosa,
Empenhada em ridicularizar quem desejou
Erigir noit’eterna em monumento à sua dor.
As lágrimas não são menos transitórias que a chuva
E as cicatrizes só têm a longevidade da carne.
A alma não é: vai sendo.
E as palavras de amor, apaga-as a maré.
2 comentários:
A quarta estrofe é particularmente fraca. Tentei empacotar demasiadas coisas nela. Também forcei o lirismo. Mão pesada. Mas há coisas que não me desagradam no poema.
Bernardino Soares dixit
"Como invejo os que escrevem romances,
que os começam e os fazem, e os acabam!"
Nós, e o poeta também, somos por natureza insatisfeitos.
Ainda bem.
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