sábado, dezembro 04, 2004

O Natal da minha vida

O Natal chegou à rua!
Há luzes, cores, brilho, pais Natal a escalar paredes e a tentar entrar nas varandas. Os enfeites cobrem as montras e até as lojas chinesas têm luzes a piscar. Os comerciantes esperam que este ano a coisa corra melhor. Nós aproveitamos o pretexto para o consumir mais, embrulhamos presentes com carinho e chegamos a lembrarmo-nos daqueles que esquecemos durante os restantes 11 meses profanos. Trocamos livros, discos, pijamas e chinelos; comemos chocolates e rabanadas; apertamos um pouco os nossos corações quando num zapping passamos pelo “Natal dos Hospitais”; no dia 25 os contentores das nossas urbes transvazam de caixas do Toys Ur’us , embalagens e papeis de embrulho coloridos. Os homens do lixo também têm Natal!!
Este é o Natal do meu mundo. Há outros!

Ao clima natalício que invade os nossos percursos falta-me o calor que aquecia mesmo as noites mais frias de natal. Não sei explicar porquê mas acho que falta a simplicidade. Os adornos soam-me a falso, a supérfluo... Eu gosto do Natal porque me lembro de uma foto em que eu e a minha irmã, pequenitas, seguramos um quadro de ardósia em que a minha mãe escreveu a giz – Feliz Natal 1975. Atrás de nós está uma árvore de Natal, daqueles pinheiros verdadeiros, que o meu pai nos levou a escolher. A árvore está carregada de tal simplicidade que mesmo sem olhar para a foto me lembro que tem cinco ou seis bolas vermelhas, nada mais... Havia também um presépio que o meu primo fez em barro. Ao lado da árvore estão dois ou três embrulhos. Nesse Natal eu e a minha irmã recebemos, cada uma, um boneco. Ao meu chamei Paulo. Tinha umas jardineiras azuis escuras e cabelo arruivado. Fez parte da minha infância até perecer esfarrapado.
Este é o Natal da minha vida. Há outros!

2 comentários:

Frater Caerulus disse...

Obrigado por esta tranche de ti. Vou fazer o meu papel de chato, pois não tenho a pretensão de ser moscardo. As sereias do consumismo, superficialidade e relaçoes mediadadas podem e devem ser resistidas. Temos de nos amarrar ao mastro. Eu vejo uma relação clara e lógica entre as coisas. Temos de votar noutro modelo de sociedade não só nas urnas mas também não comprando porcarias e não vendo televisão. Contudo, e contra mim escrevo, não podemos ficar pela resistência negativa. Há que ver e estar com pessoas a sério fora dos contextos viciados e viciantes do trabalho-produção e lazer-consumo [e, sim, estou a pensar em 'a noite']. Fazer política ou jardinagem; produzir o genuino de forma a não deixar espaço ao falso, numa lei de Gresham ;-) ao contrário.

Frater Caerulus disse...

Que emoção!
Lembrei-me da minha arvore de Natal "verdadeira", do presépio forrado a musgo apanhado nas redondezas, da neve fingida com o pó de talco, do cheiro a bosque que inundava a casa toda. E os sapatos por debaixo da chaminé! E a família atracada às cartas a jogar à sueca, pelo noite dentro....