Fui abordado há dois dias por um indivíduo que me pareceu ser um cigano romeno. Tentou vender-me o almanaque Borda d'Água. Agradeci e recusei. E foi aí que algo aconteceu. Ainda no mesmo tom de voz - coloquial, público - perguntou-me se me poderia perguntar uma coisa. Que sim, claro. Mudou o tom de voz - mais baixo, ínimo, envergonhado e confidente - e disse-me que tinha fome. Se eu lhe podia dar 50 cêntimos para um bolo. Nem pensei: dei-lhe logo dinheiro.
Este episódio foi para mim um confronto directo com uma proficiência que nunca supus existir na mendicidade. O indivíduo com que me confrontei era um autêntico monge shaolin da mendicância. Há certamente uma aprendizagem enorme por trás disto. E reflexão: deve haver conclaves secretos nos quais os mestres discutem eventuais aperfeiçoamentos das técnicas milenares.
O acontecimento recordou-me de que a vida é assim: profundidades escondidas a cada passo; mistério e assombro por todo o lado. Excepto no escritório.
O nome 'Bar do Todol' é Copyright © MGM 1998. Tomamos a liberdade de o utilizar até sermos contactados pelos seus advogados.
sexta-feira, fevereiro 25, 2005
domingo, fevereiro 20, 2005
Maioria absoluta
Então vamos criar uma maioria absoluta com base num voto de protesto? Quero dizer: ninguém anda embevecido com o PS mas ainda assim damos-lhe plenos poderes?
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
O Sexo dos Anjos
Como estou saturada de aqui ver escarrapachado o meu estado de espírito resolvi escrever acerca do “nosso” estado de espírito.
Andamos com o credo na boca há uns bons meses!
O país está de tanga, o primeiro ministro demite-se, os portugueses respiram futebol. Colapsos e vibrações, uma vitória contra a Inglaterra, suspense, bandeiras e a final contra a Grécia não cortou a respiração mas provoca espasmos. As batidas cardíacas retomam a normalidade e à medida que a conformidade com os resultados de futebol se vai instalando, um novo suspense assola o país.
Estamos outra vez com o credo na boca! Há eleições antecipadas ou muda-se o governo sem novas eleições? A decisão está tomada e há novas tomadas de posse. Agora respira-se devagar, devagarinho! Receia-se que se gaste o ar todo que temos nos pulmões. O país já gastou mais do que devia e o défice vem jantar a nossa casa todas as noites, em todos os canais, em todos os jornais!
Fazendo juz ao Príncipe Perfeito, uma vez mais, as tormentas se tornam esperança. Esperamos que a crise acabe, esperamos acabar com o défice, esperamos por melhores dias. O presidente não esperou e antes do Natal, já a coisa vai mal! No sapatinho dos portugueses aparece um presente, para alguns envenenado. Estamos outra vez com o credo na boca. “Credo, o que é que lhe deu?!”; “Credo, já não era sem tempo!”.
A coisa vem a propósito. Ano novo vida nova e é tempo de renovar, mesmo para aqueles que não gostam dos renovadores. Queremos começar com ar puro, queremos respirar. Chega de taquicardias. Enchemos o peito de ar. Queremos ter energia para estarmos presentes quando for para decidir. É o nosso futuro! Vão mexer nas nossas vidas e queremos saber o que vão fazer: já não há mais estádios de futebol mas há ainda um TGV por vingar, há programas de investimento na saúde como serviço público, na educação, na formação, na tecnologia, na defesa nacional, no equilíbrio das contas públicas? Há tanta coisa por fazer! Só temos que escolher! E nós queremos saber tudo para poder decidir. O tempo aperta e estamos outra vez com o credo na boca – voto útil ou voto no PP, voto útil ou voto no PCP? Há vários trocadilhos mas nós não queremos que nos troquem as voltas.
Enquanto queremos decidir por uma política mais económica, ou social, ou cultural ou
tal e tal ... discute-se o SEXO DOS ANJOS. De repente tornaram-se prioritárias na agenda política nacional as decisões sobre uma série de grandes questões do nosso tempo, como se de um sketch do Gato Fedorento se tratasse.
Os direitos humanos e igualitários discutem-se na praça pública a pretexto de ofensas disfarçadas, mais conhecidas por insinuações! Falta-nos o ar!
Já passámos o Verão e o Natal e agora vem o Carnaval. A nossa política bem se pode passear nos carros alegóricos dos cortejos carnavalescos! Este ano o Carnaval do continente vai ser tão animado quanto o da Madeira. Se o tempo havia transformado a época em folia e samba, fazemos agora juz à tradição do Entrudo brincando-se num folguedo alegre mas violento. É Carnaval, ninguém leva a mal. No Entrudo vale tudo!
Creio que chega de brincadeiras! É tempo de respirar, é tempo de nos levarem a sério!
Andamos com o credo na boca há uns bons meses!
O país está de tanga, o primeiro ministro demite-se, os portugueses respiram futebol. Colapsos e vibrações, uma vitória contra a Inglaterra, suspense, bandeiras e a final contra a Grécia não cortou a respiração mas provoca espasmos. As batidas cardíacas retomam a normalidade e à medida que a conformidade com os resultados de futebol se vai instalando, um novo suspense assola o país.
Estamos outra vez com o credo na boca! Há eleições antecipadas ou muda-se o governo sem novas eleições? A decisão está tomada e há novas tomadas de posse. Agora respira-se devagar, devagarinho! Receia-se que se gaste o ar todo que temos nos pulmões. O país já gastou mais do que devia e o défice vem jantar a nossa casa todas as noites, em todos os canais, em todos os jornais!
Fazendo juz ao Príncipe Perfeito, uma vez mais, as tormentas se tornam esperança. Esperamos que a crise acabe, esperamos acabar com o défice, esperamos por melhores dias. O presidente não esperou e antes do Natal, já a coisa vai mal! No sapatinho dos portugueses aparece um presente, para alguns envenenado. Estamos outra vez com o credo na boca. “Credo, o que é que lhe deu?!”; “Credo, já não era sem tempo!”.
A coisa vem a propósito. Ano novo vida nova e é tempo de renovar, mesmo para aqueles que não gostam dos renovadores. Queremos começar com ar puro, queremos respirar. Chega de taquicardias. Enchemos o peito de ar. Queremos ter energia para estarmos presentes quando for para decidir. É o nosso futuro! Vão mexer nas nossas vidas e queremos saber o que vão fazer: já não há mais estádios de futebol mas há ainda um TGV por vingar, há programas de investimento na saúde como serviço público, na educação, na formação, na tecnologia, na defesa nacional, no equilíbrio das contas públicas? Há tanta coisa por fazer! Só temos que escolher! E nós queremos saber tudo para poder decidir. O tempo aperta e estamos outra vez com o credo na boca – voto útil ou voto no PP, voto útil ou voto no PCP? Há vários trocadilhos mas nós não queremos que nos troquem as voltas.
Enquanto queremos decidir por uma política mais económica, ou social, ou cultural ou
tal e tal ... discute-se o SEXO DOS ANJOS. De repente tornaram-se prioritárias na agenda política nacional as decisões sobre uma série de grandes questões do nosso tempo, como se de um sketch do Gato Fedorento se tratasse.
Os direitos humanos e igualitários discutem-se na praça pública a pretexto de ofensas disfarçadas, mais conhecidas por insinuações! Falta-nos o ar!
Já passámos o Verão e o Natal e agora vem o Carnaval. A nossa política bem se pode passear nos carros alegóricos dos cortejos carnavalescos! Este ano o Carnaval do continente vai ser tão animado quanto o da Madeira. Se o tempo havia transformado a época em folia e samba, fazemos agora juz à tradição do Entrudo brincando-se num folguedo alegre mas violento. É Carnaval, ninguém leva a mal. No Entrudo vale tudo!
Creio que chega de brincadeiras! É tempo de respirar, é tempo de nos levarem a sério!
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