quarta-feira, janeiro 11, 2006

Sondagens

Há dias em que não leio um jornal, outros em que é à resma. Hoje peguei por acaso no DN de ontem e deparei-me com a sondagem para as presidenciais. É um assunto que me preocupa. Já tinha ouvido que 60% das intenções de voto estariam fixadas no Cavaco e essa não é uma direcção para o país que me deixe satisfeito, quer pelo conteúdo político quer pelo unanimismo.

Fui ver. Não era exactamente neve. Antes de mais, a sondagem é telefónica. Ora, sei de fonte segura que menos de metade dos lares têm telefone fixo. Isto implica que 1) mais de metade das famílias tem uma probabilidade zero de ser entrevistada. Acresce que 2) a entrevista telefónica impede a utilização do método de voto em urna e as pessoas têm pudores e receios muito substanciais quanto à divulgação do seu voto. Isto materializa-se aliás nos números divulgados: 606 entrevistas a dividir por 7590 números de telefone dá 8%, ou seja, 3) uma taxa de recusa de 92%. Por fim, as quotas: não fica claro da ficha técnica se a estratificação é paralela ou cruzada e 4) se for paralela há espaço para grandes derrapagens na combinação dos atributos (por exemplo, entrevistarem-se demasiados homens jovens numa região e, em contrapartida, um número insuficiente de homens jovens noutra região); finalmente, 5) é notória a ausência entre as variáveis utilizadas nas quotas de qualquer referência à estratificação social como, por exemplo, a escolarização terminal ou ESOMAR social grades, o que significa que, se por acaso tiverem sido entrevistadas muitas pessoas na base ou no meio da pirâmide social os resultados de um candidato apoiado por um partido de elites, como seria o caso do Francisco Louçã, ficarão necessariamente aquém do que seria a sua expressão real.

Tudo isto nos sugere que a verdadeira situação pode ser bem diferente da que aparenta. Contudo, não podemos esquecer o magistral adágio de Salazar: em política o que parece é. A 6) apoteose de Cavaco nas sondagens predisporá os seus apoiantes a responder a entrevistas telefónicas e levará ao retraimento de quem pensa de modo diferente. Falta saber se o mesmo efeito se estenderá ao voto propriamente dito.

2 comentários:

Anónimo disse...

A tua análise é bastante pertinente e interessante.
Na minha opinião, julgo que no dia das eleições vai acontecer o mesmo que tem acontecido nas eleições dos segundos mandatos dos presidentes; grande parte das pessoas não vai votar, pois nas suas cabeças à partida o Cavaco já ganhou! Os Cavaquistas vão votar em massa… Penso que os restantes candidatos são tudo menos consensuais, nenhum se está a destacar positivamente… Eu estou a ver o futuro muito negro… Espero estar enganada!E por último, confesso, ainda não consegui decidir em quem vou votar... Decididamente não quero o Cavaco... mas o problema é que também não quero nenhum dos outros...

Anónimo disse...

Boa, Tiago!
Não era nada que não ouvesse já questionado, mas não o havia formulado com essa clareza.
Apesar de tudo alimento ainda a esperança de que essa previsão de resultados e a pose triunfal do labrego, resultem a 22 numa corrida às urnas para impedir a sua eleição. Por cá vai tudo votar e não serão sequer as escadas da escola secundária, que manterão a cadeira de rodas do meu pai impossibilitada de chegar à urna.