As minhas últimas entradas em igrejas haviam sido nas férias e obedeciam a rituais turísticos e interesses unicamente estéticos:
- Uma igreja visitada em Helsínquia, entre um passeio rápido aos pontos assinalados no guia e uma corrida para o barco que partia sem nós se não nos despachássemos!
Valeu pena a corrida: uma igreja meio sublevada, esculpida na pedra e com um tecto verde em abóbada quase ao nível do solo; Lá dentro algumas pessoas a rezar, outras a tirar fotografias. Cá fora, algumas pessoas deitadas na relva, de biquini, a apanhar as horas mais quentes de um dia com 21 horas de sol;
- outra igreja visitada em Estocolmo que nada tinha de especial a não ser o facto de se situar naqueles jardins gradeados que têm mesas de piquenique ao lado de campas. Pois foi numa dessas mesas de jardim que almoçámos sandochas mistas com tomate e ovos cozidos. Na mesa ao lado da nossa estava um grupo de pessoas, daquelas que parecem retiradas de um filme de Lars von Trier. Entre elas, a mulher do padre /pastor (homem muito jeitoso, por sinal) que vendia bebidas quentes e a quem comprámos um chá para acompanhar a nossa refeição, uma figura meio híbrida que lembrava o Elton John e que mantinha o estilo artístico e maquilhado apesar da idade avançada, uma ou duas paroquianas devotas e com muita idade e um senhor com olhar penetrante e ar absolutamente lunático. Nas campas do jardim havia sempre uma figura paternal sentada (não esquecer que estamos na Suécia, onde são os pais que tomam conta dos filhos), a folhear o jornal com uma mão e a embalar o carrinho do bebé com a outra.
À parte destas recentes visitas há muito que não entrava numa igreja, a não ser para casamentos e baptizados. E hoje foi uma dessas ocasiões. Um baptizado (sacramento da regeneração pela água e pela palavra) com missa!
Ali estava eu! Em vez de admirar o estilo gótico da igreja, por acaso muito bonita, sóbria e despida das habituais figuras religiosas e cenas litúrgicas pintadas nas paredes, em vez de reparar nas beatas do coro e imaginar a semana delas para além do dia Dominical, em vez de desprezar rituais de abnegação e peditório, em vez de admirar paz nas expressões de fé dos crentes que se ajoelham e rezam, resolvi ouvir a palavra do senhor. Do senhor padre!
E assim fiz, mas não sem olhar em redor e observar quem também a ouvia.
O padre contou uma história sobre o perdão, Mt 18, 21-35. Rezava assim:
Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, levaram a ele um que devia dez mil talentos. Como o empregado não tinha com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão e, ajoelhado, suplicava: “Dá-me um prazo. E eu te pagarei tudo”. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado, e lhe perdoou a dívida. Ao sair daí, esse empregado encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem moedas de prata. Ele o agarrou, e começou a sufocá-lo, dizendo: “Pague logo o que me deve”. O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ”‘Dê-me um prazo, e eu pagarei a você”. Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão, e lhe contaram tudo. O patrão mandou chamar o empregado, e lhe disse: “Empregado miserável! Eu lhe perdoei toda a sua dívida, porque você me suplicou. E você, não devia também ter compaixão do seu companheiro, como eu tive de você?’ O patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. É assim que fará com vocês o meu Pai que está no céu, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.»
Pois... não vi ninguém a acenar a cabeça em sinal de concórdia, não senti emoção nas palavras nem vibração nos ouvintes. Um discurso político causa mais impressão, apesar do cepticismo! Tudo me pareceu mecânico. O acólito atento aos pedidos do padre, o coro à espera das entradas, o crente que estuda o momento em que sobe ao altar para ler um qualquer versículo, ainda que não o entenda! Fiquei triste! Ainda que me sinta pouco ou nada tocada pela fé católica preferia pensar que ela realmente existe.
- Uma igreja visitada em Helsínquia, entre um passeio rápido aos pontos assinalados no guia e uma corrida para o barco que partia sem nós se não nos despachássemos!
Valeu pena a corrida: uma igreja meio sublevada, esculpida na pedra e com um tecto verde em abóbada quase ao nível do solo; Lá dentro algumas pessoas a rezar, outras a tirar fotografias. Cá fora, algumas pessoas deitadas na relva, de biquini, a apanhar as horas mais quentes de um dia com 21 horas de sol;
- outra igreja visitada em Estocolmo que nada tinha de especial a não ser o facto de se situar naqueles jardins gradeados que têm mesas de piquenique ao lado de campas. Pois foi numa dessas mesas de jardim que almoçámos sandochas mistas com tomate e ovos cozidos. Na mesa ao lado da nossa estava um grupo de pessoas, daquelas que parecem retiradas de um filme de Lars von Trier. Entre elas, a mulher do padre /pastor (homem muito jeitoso, por sinal) que vendia bebidas quentes e a quem comprámos um chá para acompanhar a nossa refeição, uma figura meio híbrida que lembrava o Elton John e que mantinha o estilo artístico e maquilhado apesar da idade avançada, uma ou duas paroquianas devotas e com muita idade e um senhor com olhar penetrante e ar absolutamente lunático. Nas campas do jardim havia sempre uma figura paternal sentada (não esquecer que estamos na Suécia, onde são os pais que tomam conta dos filhos), a folhear o jornal com uma mão e a embalar o carrinho do bebé com a outra.
À parte destas recentes visitas há muito que não entrava numa igreja, a não ser para casamentos e baptizados. E hoje foi uma dessas ocasiões. Um baptizado (sacramento da regeneração pela água e pela palavra) com missa!
Ali estava eu! Em vez de admirar o estilo gótico da igreja, por acaso muito bonita, sóbria e despida das habituais figuras religiosas e cenas litúrgicas pintadas nas paredes, em vez de reparar nas beatas do coro e imaginar a semana delas para além do dia Dominical, em vez de desprezar rituais de abnegação e peditório, em vez de admirar paz nas expressões de fé dos crentes que se ajoelham e rezam, resolvi ouvir a palavra do senhor. Do senhor padre!
E assim fiz, mas não sem olhar em redor e observar quem também a ouvia.
O padre contou uma história sobre o perdão, Mt 18, 21-35. Rezava assim:
Pedro aproximou-se de Jesus, e perguntou: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu acertar as contas com seus empregados. Quando começou o acerto, levaram a ele um que devia dez mil talentos. Como o empregado não tinha com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida. O empregado, porém, caiu aos pés do patrão e, ajoelhado, suplicava: “Dá-me um prazo. E eu te pagarei tudo”. Diante disso, o patrão teve compaixão, soltou o empregado, e lhe perdoou a dívida. Ao sair daí, esse empregado encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem moedas de prata. Ele o agarrou, e começou a sufocá-lo, dizendo: “Pague logo o que me deve”. O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ”‘Dê-me um prazo, e eu pagarei a você”. Mas o empregado não quis saber disso. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que devia. Vendo o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o patrão, e lhe contaram tudo. O patrão mandou chamar o empregado, e lhe disse: “Empregado miserável! Eu lhe perdoei toda a sua dívida, porque você me suplicou. E você, não devia também ter compaixão do seu companheiro, como eu tive de você?’ O patrão indignou-se, e mandou entregar esse empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. É assim que fará com vocês o meu Pai que está no céu, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão.»
Pois... não vi ninguém a acenar a cabeça em sinal de concórdia, não senti emoção nas palavras nem vibração nos ouvintes. Um discurso político causa mais impressão, apesar do cepticismo! Tudo me pareceu mecânico. O acólito atento aos pedidos do padre, o coro à espera das entradas, o crente que estuda o momento em que sobe ao altar para ler um qualquer versículo, ainda que não o entenda! Fiquei triste! Ainda que me sinta pouco ou nada tocada pela fé católica preferia pensar que ela realmente existe.
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